É EXTRAORDINÁRIA esta mania tão portuguesa de tentar encontrar bodes expiatórios para
justificar desilusões, derrotas e erros. E isso vale para tudo, desde a
política ao futebol, passando pela vida empresarial, pela actividade cultural,
por todo o lado. O que se está a passar à volta da lamentável prestação da
selecção portuguesa em terras brasileiras não foge à regra… E quando todos
sabemos que os responsáveis pela imagem inenarrável e degradante que a equipa
nacional deixou neste Mundial são, à partida, o técnico e uma significativa
maioria dos jogadores, eis que tentam lançar para a fogueira o nome de alguém
que não tendo qualquer responsabilidade na escolha dos jogadores, na sua
preparação, ou seja no seu desempenho, é aparentemente o elo mais fraco de toda
a história: Tiago Craveiro, o
director-geral da Federação Portuguesa de Futebol.
Conheço o Tiago há muito tempo, era ele um jovem jornalista,
tinha talvez uns 23 ou 24 anos. Foi numa campanha eleitoral, estava eu de
um lado e ele de outro - ou seja, eu desempenhava funções na estrutura dessa
campanha e ele cobria-a como repórter. O Jorge Lemos Peixoto, que então
estava comigo nessas tarefas, está aí para certamente corroborar o quanto o
Tiago me impressionou, tanto pelo seu profissionalismo como pelo seu carácter.
Nele sempre pudemos confiar, sempre soubemos que com ele o que era off era
off e o que por vezes era combinado era cumprido à certa - algo que
muito jornalista que por aí anda (e andou) não se pode orgulhar.
Resumindo: tenho do Tiago Craveiro a imagem de um
homem sério, íntegro e profissional.E não resisto a contar (espero que ele não se chateie…) um episódio vivido
apenas há semana e meia quando, três(!) minutos após ter publicado na minha
página de Facebook um post pouco simpático para a selecção, mais
concretamente acerca da eleição de Campinas como quartel-general, recebi uma
mensagem privada do Tiago: "Se me quiser
perguntar a razão da escolha de Campinas, eu respondo (…) tem algum número
brasileiro onde eu possa ligar-lhe?". Dito e feito, pouco tempo
depois o telefone tocou. Do outro lado, calma e serenamente, o Tiago
apresentou-me algumas justificações, algumas que eu considerei como plausíveis
e aceitáveis para essa escolha, o que me permitiu minutos depois, na mesma
página de Facebook, citando "um velho
conhecido" (no caso o Tiago Craveiro) apresentar essa
justificação. Escrevi então: "Aceite-se ou
não, finalmente aqui está uma justificação que considero plausível para a
escolha de Campinas(…)". Acho que este episódio mostra quem
é e como se comporta o Tiago - discreto, profissional e eficiente. E atento ao
mais ínfimo pormenor, pronto a defender aquilo em que acredita e porventura
fazendo o que alguns, por não lhes convir, não quiseram fazer: defender a
selecção e o próprio técnico. Pode-se estar, ou não, de acordo com o Tiago
nessa defesa, mas uma coisa é certa: ao fazer isso, ao não medir esforços para
defender a sua "dama", o Tiago Craveiro fez mais que a sua obrigação.
Podia ter ficado "nas covas", "na sua" como se diz, tal
como tantos outros que assobiaram para o lado e viraram as costas para os
problemas. Mas não, ele optou por tentar ajudar a defender o que ele achava ser
necessário defender, demonstrando também o quanto estava envolvido e
comprometido com a missão em que participava. Pudessem todos orgulhar-se do
mesmo…
Um abraço, Tiago!
Um abraço, Tiago!
1 comentário:
Subscrevo da primeira à ultima linha o que escreveste.
Curiosamente também conheci o Tiago numa campanha eleitoral.
Mais propriamente nas autárquicas de 2001 nas quais enquanto secretário geral adjunto do PSD acompanhava o líder (Durão Barroso)nas voltas pelo país e o Tiago fazia a cobertura da campanha para o orgão de comunicação para que trabalhava na altura. E confirmo tudo que escreveste sobre o seu profissionalismo e "savoir faire".
Curiosamente ele também me explicou, ainda antes do Mundial, as razões porque optaram por Campinas. Que achei razoáveis e por isso nunca critiquei essa opção. O problema da selecção não foi seguramente o Tiago Craveiro.
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