Os comentários a este blogue serão moderados pelo autor, reservando-se o mesmo a não reproduzir aqueles que pelo seu teor sejam considerados ofensivos ou contenham linguagem grosseira.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

O "outdoor" e o imbecil...



É DIFÍCIL encontrar palavras para comentar a imbecilidade subjacente a este outdoor que a distrital de Beja do PSD resolveu colocar a dois passos da Ovibeja, certamente para agradar a Pedro Passos Coelho que tinha previsto lá se deslocar durante o dia de hoje. 
Conhecendo a criatura que há uns anos tomou "de assalto" (nunca a expressão foi tão bem utilizada…) aquela estrutura laranja não será de espantar tamanha patetice, muito menos sabendo-o capaz de tudo fazer (ou disponibilizar…) para agradar aos seus líderes políticos ou espirituais… Porém, mesmo a estupidez tem limites. Ou será que não?

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Abril em Portugal...

UMAS BREVES e sucintas notas em jeito de diário de cinco ou seis dias passados em Portugal, num também breve intervalo, de uma estada por terras brasileiras.

Terça-feira, 22 de Abril

A apresentação do drone da Marinha, numa cerimónia presidida pelo ministro da Defesa, foi um dos momentos mais hilariantes do ano. Ninguém me tira da cabeça que não foi por acaso que o militar encarregue do frustrado lançamento usou um passa-montanhas a esconder-lhe a cara...

Quarta-feira, 23 de Abril

A propósito da morte de Gabriel Garcia Márquez, a revista “Sábado” publica em separata as reportagens que, em 1974, o escritor escreveu para a revista colombiana “Alternativa” sobre o Portugal pós-25 de Abril e em que, rendido à “festa”, descreve o ambiente da época. Curioso... Há uns anos, quem diria que a chamada “esquerda folclórica”, arrinconada na cinzenta, velha e já quase defunta “Visão” deixaria escapar um scoop (passe a expressão) destes. De facto, os tempos mudaram... Ainda por cima quando, dois ou três dias mais tarde, através do Facebook, vim a saber que um trabalho encomendado a João Botelho para ser capa do cinzento “JL” foi censurado pelo sempre diligente  José Carlos Vasconcelos, presumivelmente por ser ofensivo para Cavaco Silva (ver foto). Notável...


Quinta-feira, 24 de Abril

A propósito dos 40 anos do levantamento militar, a Associação 25 de Abril divulgou um comunicado. Mais valia não o ter feito... Alguém conseguirá explicar às luminárias que tomaram conta daquela organização que ao pedir e incitar ao derrube de um governo que, pese a óbvia (e também legítima) contestação de que é alvo nas ruas e de quem se proclama analista e comentador, é democraticamente legitimo, a Associação 25 de Abril está a contradizer-se na sua génese?! É que, por muito que lhes custe, este governo que eles anseiam “defenestrar” é produto da vontade expressa e maioritária do eleitorado que, no exercício de um direito para a qual o 25 de Abril de 1974 foi decisivo, escolheu. E quando, em letra de forma e invocando uma legitimidade que, no meu entender, findou quando entregaram o poder à sociedade civil, escrevem “pérolas” como esta – “Temos de ser capazes de expulsar os ‘vendilhões do templo’. Os desmandos e a tragédia da atual governação não podem continuar(…)" – o que resta dos “militares de Abril” comportam-se-se mais como uns Casal Ribeiro de outros tempos que propriamente como paladinos da democracia e dos seus princípios.

Sexta-feira, 25 de Abril

Praticamente à mesma hora em que, no bar do clube de golfe onde normalmente “tento” jogar, um energúmeno vociferava sem nexo contra uma data que, há 40 anos atrás, possivelmente lhe veio a permitir amealhar uns cobres e, de um momento para o outro, achar-se “da alta”, no largo do Carmo, a uns quantos quilómetros, uma outra criatura – tão imbecil quanto esta – investido nas funções de “tribuno de serviço” lia deslumbrado um discurso desgastado, pobre e, também ele, sem nexo. Ao primeiro dos energúmenos não lhe conheço nome ou profissão – apenas o sei parco de ideias e cretino de intenções; ao segundo, conheço-lhe o nome e a pose algo grotesca, o deslumbre fácil e a constante tentação de ocupar  na História um lugar que nunca foi dele. Estão bem um para o outro. Extraordinário...
À noite, breve vista de olhos pelos telejornais: na Assembleia da República, numa cerimónia chocha, houve quem confundisse “resgate” com “ditadura”; no Carmo não faltaram os que ainda não perceberam que querer derrubar um governo sem ser pelo voto é tudo menos democrático...

Sábado, 26 de Abril

Já me tinham contado, mas eu – reconheço... – tinha alguma dificuldade em acreditar: as medidas governamentais deixaram de ser anunciadas pelo porta-voz do executivo e, na prática, o ministro Luís Marques Guedes foi substituído pelo comentador Luís Marques Mendes que, no seu espaço na SIC, apregoa a descida do gás de botija, a revisão das rendas da EDP e eu sei lá mais o quê. Acredito que isso lhe dê um jeitão e contribua para valorizar-se perante a sua entidade patronal (neste caso, a SIC...), mas convenhamos que – estivesse eu no lugar de Marques Guedes – não hesitava em queixar-me à Autoridade da Concorrência...

Domingo, 27 de Abril

Assisti, com um dia de atraso, a um interessante (e inteligente) frente-a-frente na SIC Notícias entre António Vitorino e Pedro Santana Lopes. Valeu a pena. Mas depois... depois voltei à programação do dia e dei comigo a ver um “Eixo do Mal”, todo ele dedicado ao 25 de Abril, onde a par dos habituées, marcaram presença alguns dos “cromos mais difíceis da colecção”. A saber: Isabel do Carmo, Ângelo Correia, Helena Roseta, Ana Gomes, padre Vaz Pinto e um inenarrável Manuel João Vieira, a quem certamente alguém um dia disse (e ele levou a sério!) que tinha graça. Uma tristeza, onde o habitual cabotinismo dos “residentes” foi salpicado por inenarráveis análises políticas dos “convidados”, com particular destaque para a ziguezagueante arquitecta que – pasme-se! – revelou o seu entusiasmo por ter finalmente encontrado um rosto que, segundo ela, poderá protagonizar a mudança que a senhora tanto anseia para o nosso País – nada mais nada menos que o anafado Vasco Lourenço, cujo discurso no Carmo tinha-lhe devolvida “a esperança” ou qualquer coisa dessas. Coitada...

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O meu 25 de Abril

LEMBRO-ME, COMO se fosse hoje daquela manhã em que, para minha surpresa e ao invés do que era normal, o meu Pai me acordou dizendo-me qualquer coisa como isto: “Levanta-te que há um golpe de estado e vai ter lá acima...”.
Lembro-me da minha Mãe emocionada ao telefone com um amigo de família, o espanhol Enrique Ruíz Garcia, que ligava desde Madrid: “Fueron cuarenta y ocho años Enrique - mi edad, cuarenta y ocho años, imaginate Enrique...” - a frase com que, uma semana mais tarde, o mesmo Ruiz Garcia abria o artigo que escrevia, salvo erro, nos “Cuadernos para el Dialogo” (ou seria na “Triunfo”?), citando “su amiga Maria Virginia”.
Lembro-me daquela serenidade aparente de meu Pai, sempre metódico, a colocar as balas no seu “Taurus” (“nunca se sabe o que isto pode dar”) e a distribuir tarefas: “Zé Paulo, avisa os teus colegas para não irem para a escola”; “Maria Virginia, vê se temos comida suficiente e para quantos dias...”; “Zézinha, liga para fulano e para beltrano a avisar...”.
Lembro-me da Graça Carvalho Fernandes e do Jorge Trigo de Sousa entrarem portas dentro com um pequeno televisor (o primeiro que alguma vez entrou em nossa casa) e que rapidamente sintonizado no único dos dois canais de televisão que funcionava naquele dia, permitiu-nos, juntamente com as emissões de rádio, acompanhar o que se passava em Lisboa.
Lembro-me de, a meio da tarde e aproveitando a natural confusão do “entra e sai” dos inúmeros amigos de casa, dos milhentos telefonemas que levavam o meu Pai a estar agarrado ao telefone, conseguir finalmente escapulir-me  e ir ter com o meu amigo Pedro Pimenta. Acho que chegámos a pintalgar num muro na Avenida de Sintra um “Viva a Liberdade!” ou uma coisa do género, assim numa espécie de nossa “primeira vez” e que, contada no regresso a casa, me deu direito a levar um raspanete do meu Pai para quem a situação ainda estava “muito confusa” e que o facto de sermos vizinhos do almirante Henrique Tenreiro preocupava - isto "no caso das coisas darem para o torto".
Lembro-me de, ao fim da tarde, a Carol Quina e o António Silva (juntos até hoje!) aparecerem lá em casa, vindos de Lisboa, a contar as últimas que, sofregamente, todos “bebemos”. O António que, ainda há dias, me contava ao telefone desde Paris, que nunca mais esqueceu uma frase dita pelo meu Pai, já a noite ia longa: “Se os presos não forem todos libertados, eu não acredito nisto”.
Lembro-me que, daí a umas horas, fomos dos primeiros a chegar ao cruzamento que dava acesso ao portão da prisão de Caxias, de onde só arredámos pé muitas horas depois, já a noite ia longa e quando (lembro-me tão bem...) vimos o sempre elegante Hermínio da Palma Inácio sair à frente de um grupo de presos políticos finalmente em liberdade.
Lembro-me então de voltarmos a casa, em Cascais, já no dia 27. Do meu Pai pedir à minha Mãe para lhe fazer “um chá e uma torrada”, de ir-me deitar e de ter percebido que existem dias que podem ter muito mais que 24 horas e serem recordados, minuto a minuto, quarenta anos depois...

Para terminar: já escrevi aqui e já o repeti mil vezes que o dia 25 de Abril foi o dia mais feliz da minha vida até hoje. Que me desculpem os meus quatro filhos, cujos nascimentos obviamente são datas que nunca esquecerei, mas aquele dia do ano de 1974 teve um significado único e incomparável para mim - um miúdo à beira de fazer 13 anos e que sempre convivera num ambiente de clara e profunda oposição ao regime que durava há 48 anos. Um miúdo que, quarenta anos depois, lembra-se tantas, mas tantas vezes daquela frase dita ao telefone pela sua Mãe - às primeiras horas do dia 25 de Abril: “Fueron cuarenta y ocho años Enrique - mi edad, cuarenta y ocho años, imaginate Enrique”.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

O professor Náuseas


CHEGAR A Lisboa após várias semanas fora, sentarmo-nos no carro, ligarmos o rádio e ouvirmos uma criatura chamada Diogo Freitas do Amaral perorar sobre "as virtudes de Abril" e clamar, qual bloquista mais empedernido, pelo afastamento do governo, é um exercício que, além de surrealista, provoca profundas náuseas ao mais tolerante ou distraído indivíduo. E se atentarmos no tom utilizado - uma mistura entre suposto "Pai da Pátria" e pároco de uma qualquer aldeola beirã - então da repulsa à "contracção não peristáltica do estômago" é um pequeno passo. Uma maneira elegante de descrever o vómito que provoca a quem tenha um mínimo de memória e que perceba que este aplicado, obediente e servil  apaniguado dos últimos anos do Estado Novo não tem um pingo de vergonha na cara...

Gabriel Garcia Márquez: um conto, acima de tudo...


NÃO ERA propriamente uma pessoa simpática. Quando conheci Gabriel García Márquez, em finais da década de 70, já  o Nobel espreitava e a pose era de alguém que se comportava e visivelmente se sentia como vedeta. Especialmente ali em Havana, permanente "invitado de honorde um Fidel Castro de quem afinal (infelizmente) nunca escreveu a prometida biografia e que o tinha como um dos seus principais confidentes em longas conversas madrugadas fora e que tinham uma das casas do Laguito como palco. São várias (e vastas) as minhas memórias, tanto de Gabo como de Mercedes. Primeiro em Havana, de dois ou três longos almoços en petit comité tarde fora na  casa dos meus Pais en Cubanacán; depois do México, da sua casa do Pedregal - onde fui várias vezes com o seu grande amigo Álvaro Mutis. A Garcia Márquez, conheci-o de perto, fora dos holofotes, no que se denomina normalmente como intimidade. À mesa, em intermináveis almoços a que, miúdo, assistia já percebendo que estava à frente de alguém que de alguma maneira estava e ia marcar uma época; a protagonizar birras homéricas, quando, por exemplo, sem só nem piedade e para embaraço dos presentes, desancou um seu empregado que tinha deixado acabar um molho qualquer que ele achava imprescindível para um dos longos almoços de domingo na sua casa da Cidade do México; ou quando descrevia deliciado e ao pormenor a suite do Plaza em Nova York onde tinha passado uma semana com Mercedes e onde  - contava - era servido por criados de libré e "guante blanco".
A imagem que guardo de Garcia Márquez, o padrinho da minha amiga Francine, não é propriamente a do genial escritor que era - mas sim de alguém, vulgar e humano como qualquer um de nós, a quem o chamado estrelato obviamente deslumbrou e que não resistia a dar largas a um transbordante ego, num exercício que por vezes incomodava quem com ele privava; a imagem que guardo do Garcia Márquez, o amigo e confidente de Fidel, é mais do suposto "periodista" que escreveu uma controversa reportagem sobre a "Operação Carlota" que propriamente a do autor do "Cem Anos de Solidão"  ou do "Outono do Patriarca; a imagem que guardo do Garcia Márquez é muito mais a de quem usava um macacão tipo jardineira de ganga e uma camisa aos quadradinhos vermelhos e brancos que a indumentária branca com que fez questão de se apresentar em Oslo para receber o Nobel das mãos do monarca sueco; e a imagem que quero guardar de Garcia Márquez é daquele homem que um dia resolveu escrever um conto chamado "Me alquilo para soñar" e que por razões mais do que óbvias me diz mais que qualquer outra coisa que Gabo alguma vez tenha escrito:

"A las nueve de la mañana, mientras desayunábamos en la terraza del Habana Riviera, un tremendo golpe de mar a pleno sol levantó en vilo varios automóviles que pasaban por la avenida del malecón, o que estaban estacionados en la acera, y uno quedó incrustado en un flanco del hotel. Fue como una explosión de dinamita que sembró el pánico en los veinte pisos del edificio y convirtió en polvo el vitral del vestíbulo. Los numerosos turistas que se encontraban en la sala de espera fueron lanzados por los aires junto con los muebles, y algunos quedaron heridos por la granizada de vidrio. Tuvo que ser un maretazo colosal, pues entre la muralla del malecón y el hotel hay una amplia avenida de ida y vuelta, así que la ola saltó por encima de ella y todavía le quedó bastante fuerza para desmigajar el vitral.
         
Los alegres voluntarios cubanos, con la ayuda de los bomberos, recogieron los destrozos en menos de seis horas, clausuraron la puerta del mar y habilitaron otra, y todo volvió a estar en orden. Por la mañana no se había ocupado nadie del automóvil incrustado en el muro, pues se pensaba que era uno de los estacionados en la acera. Pero cuando la grúa lo sacó de la tronera descubrieron el cadáver de una mujer amarrada en el asiento del conductor con el cinturón de seguridad. El golpe fue tan brutal que no le quedó un hueso entero. Tenía el rostro desbaratado, los botines descosidos y la ropa en piltrafas, y un anillo de oro en forma de serpiente con ojos de esmeraldas. La policía estableció que era el ama de llaves de los nuevos embajadores de Portugal. En efecto, había llegado con ellos a La Habana quince días antes, y había salido esa mañana para el mercado manejando un automóvil nuevo. Su nombre no me dijo nada cuando leí la noticia en los periódicos, pero en cambio quedé intrigado por el anillo en forma de serpiente y ojos de esmeraldas. No pude averiguar, sin embargo, en qué dedo lo usaba.
         
Era un dato decisivo, porque temí que fuera una mujer inolvidable cuyo nombre verdadero no supe jamás, que usaba un anillo igual en el índice derecho, lo cual era más insólito aún en aquel tíempo. La había conocido treinta y cuatro años antes en Viena, comiendo salchichas con papas hervidas y bebiendo cerveza de barril en una taberna de estudiantes latinos. Yo había llegado de Roma esa manana, y aún recuerdo mi impresión inmediata por su espléndida pechuga de soprano, sus lánguidas colas de zorros en el cuello del abrigo y aquel anillo egipcio en forma de serpiente. Me pareció que era la única austríaca en el largo mesón de madera, por el castellano primario que hablaba sin respirar con un acento de quincallería. Pero no, había nacido en Colombia y se había ido a Austria entre las dos guerras, casi niña, a estudiar música y canto. En aquel momento andaba por los treinta años mal llevados, pues nunca debió ser bella y había empezado a envejecer antes de tiempo. Pero en cambio era un ser humano encantador. Y también uno de los más temibles.
         
Viena era todavía una antigua ciudad imperial, cuya posición geográfica entre los dos mundos irreconciliables que dejó la Segunda Guerra había acabado de convertirla en un paraíso, del mercado negro y el espionaje mundial. No hubiera podido imaginarme un ámbito más adecuado para aquella compatriota fugitiva que seguía comiendo en la taberna estudiantil de la esquina sólo por fidelidad a su origen, pues tenía recursos de sobra para comprarla de contado con todos sus comensales dentro. Nunca dijo su verdadero nombre, pues siempre la conocimos con el trabalenguas germánico que le inventaron los estudiantes latinos de Viena: Frau Frida. Apenas me la habían pesentado cuando incurrí en la impertinencia feliz de preguntarle cómo había hecho para implantarse de tal modo en aquel mundo tan distante y distinto de sus riscos de vientos del Quindío, y ella me contestó con un golpe:
         
— Me alquilo para soñar.
         
En realidad, era su único oficio. Había sido la tercera de los once hijos de un próspero tendero del antiguo Caldas, y desde que aprendió a hablar instauró en la casa la buena costumbre de contar los sueños en ayunas, que es la hora en que se conservan más puras sus virtudes premonitorias. A los siete años soñó que uno de sus hermanos era arrastrado por un torrente. La madre, por pura superstición religiosa, le prohibió al niño lo que más te gustaba, que era bañarse en la quebrada. Pero Frau Frida tenía ya un sistema propio de vaticinos.
         
—Lo que ese sueño significa — dijo — no es que se vaya a ahogar, sino que no debe comer dulces.
         
La sola interpretación parecía una infamia, cuando era para un niño de cinco anos que no podía vivir sin sus golosinas dominicales. La madre, ya convencida de las virtudes adivinatorias de la hija, hizo respetar la advertencia con mano dura. Pero al primer descuido suyo el niño se atraganto con una canica de caramelo que se estaba comiendo a escondidas, y no fue posible salvarlo.
         
Frau Frida no había pensado que aquella facultad pudiera ser un oficio, hasta que la vida la agarró por el cuello en los crueles inviernos de Viena. Entonces tocó para pedir empleo en la primera casa que le gustó para vivir, y cuando le preguntaron qué sabía hacer, ella sólo dijo la verdad: “Sueño”. Le bastó con una breve explicación a la dueña de casa para ser aceptada, con un sueldo apenas suficiente para los gastos menudos, pero con un buen cuarto y las tres comidas. Sobre todo el desayuno, que era el momento en que la familia se sentaba a conocer el destino inmediato de cada uno de sus miembros: el padre, que era un rentista refinado; la madre, una mujer alegre y apasionada de la música de cámara romántica, y dos niños de once y nueve años. Todos eran religiosos, y por lo mismo propensos a las supersticiones arcaicas, y recibieron encantados a Frau Frida con el único compromiso de descifrar el destino diario de la familia a través de los sueños.
         
Lo hizo bien y por mucho tiempo, sobre todo en los años de la guerra, cuando la realidad fue más siniestra que las pesadillas. Sólo ella podía decidir a la hora del desayuno lo que cada quien debía hacer aquel día, y cómo debía hacerlo, hasta que sus pronósticos terminaron por ser la única autoridad en la casa. Su dominio sobre la familia fue absoluto: aun el suspiro más tenue era por orden suya. Por los días en que estuve en Viena acababa de morir el dueño de casa, y había tenido la elegancia de legarle a ella una parte de sus rentas, con la única condición de que siguiera soñando para la familia hasta el fin de sus sueños.
         
Estuve en Viena más de un mes, compartiendo las estrecheces de los estudiantes, mientras esperaba un dinero que nunca llegó. Las visitas imprevistas y generosas de Frau Frida en la taberna eran entonces como fiestas en nuestro régimen de penurias. Una de esas noches, en la euforia de la cerveza, me habló al oído con una convicción que no permitía ninguna pérdida de tiempo.
         
— He venido sólo para decirte que anoche tuve un sueño contigo — me dijo —. Debes irte enseguida y no volver a Viena en los próximos cinco años.
         
Su convicción era tan real, que esa misma noche me embarcó en el último tren para Roma. Yo, por mi parte, quedé tan sugestionado, que desde entonces me he considerado sobreviviente de un desastre que nunca conocí. Todavía no he vuelto a Viena.
         
Antes del desastre de La Habana había visto a Frau Frida en Barcelona, de una manera tan inesperada y casual que me pareció misteriosa. Fue el día en que Pablo Neruda pisó tierra española por primera vez desde la Guerra Civil, en la escala de un lento viaje por mar hacia Valparaíso. Pasó con nosotros una mañana de caza mayor en las librerías de viejo, y en Porter compró un libro antiguo, descuadernado y marchito, por el cual pagó lo quehubiera sido su sueldo de dos meses en el consulado de Rangún. Se movía por entre la gente como un elefante inválido, con un interés infantil en el mecanismo interno de cada cosa, pues el mundo te parecía un inmenso juguete de cuerda con el cual se inventaba la vida.
         
No he conocido a nadie más parecido a la idea que uno tiene de un Papa renacentista: glotón y refinado. Aun, contra su voluntad, siempre era él quien presidía la mesa. Matilde, su esposa, le ponía un babero que parecía más de peluquería que de comedor, pero era la única manera de impedir —que se bañara en salsas. Aquel día en Carvalleiras fue ejemplar. Se comió tres langostas enteras descuartizándolas con una maestría de cirujano, y al mismo tiempo devoraba con la vista los platos de todos, e iba picando un poco de cada uno, con un deleite que contagiaba las ganas de comer: las almejas de Galicia, los percebes del Cantábrico, las cigalas de Alicante, las espardenyas de la Costa Brava. Mientras tanto, como los franceses, sólo hablaba de otras exquisiteces de cocina, y en especial de los mariscos prehistóricos de Chile que llevaba en el corazón. De pronto dejó de comer, afinó sus antenas de bogavante, Y me dijo en voz muy baja:
        
— Hay alguien detrás de mí que no deja de mirarme.
         
Miré por encima de su hombro, y así era. A sus espaldas, tres mesas más allá, una mujer impávida con un anticuado sombrero de fieltro y una bufanda morada masticaba despacio con los ojos fijos en él. La reconocí en el acto. Estaba envejecida y gorda, pero era ella, con el anillo de serpiente en el índice.
         
Viajaba desde Nápoles en el mismo barco que los Neruda, pero no se habían visto a bordo. La invitamos a tomar el café en nuestra mesa, y la induje a hablar de sus sueños para sorprender al poeta. Él no le hizo caso, pues planteó desde el principio que no creía en adivinaciones de sueños.
         
— Sólo la poesía es clarividente —dijo.
         
Después del almuerzo, en el inevitable paseo por las Ramblas, me retrasé a propósito con Frau Frida para refrescar nuestros recuerdos sin oídos ajenos. 
— Me contó que había vendido sus propiedades de Austria y vivía retirada en Porto, Portugal, en una casa que describió como un castillo falso sobre una colina desde donde se veía todo el océano hasta las Américas. Aunque no lo dijera, en su conversación quedaba claro que de sueño en sueño había terminado por apoderarse de la fortuna de sus inefables patrones de Viena. No me impresionó, sin embargo, porque siempre había pensado que sus sueños no eran más que una artimaña para vivir. Y se lo dije.
         
Ella soltó su carcajada irresistible. “Sigues tan atrevido como siempre”, me dijo. Y no dijo más, porque el resto del grupo se había detenido a esperar que Neruda acabara de hablar en jerga chilena con los loros de la Rambla de los Pájaros. Cuando reanudamos la charla, Frau Frida había cambiado de tema.
         
— A propósito — me dijo —: Ya puedes volver a Viena.
         
Sólo entonces caí en la cuenta de que habían transcurrido trece años desde que nos conocimos.
         
— Aun si tus sueños son falsos, jamás volveré — le dije. Por si acaso.
         
A las tres nos separamos de ella para acompañar a Neruda a su siesta sagrada. La hizo en nuestra casa, después de unos preparativos solemnes que de algún modo recordaban la ceremonia del té en el Japón. Había que abrir unas ventanas y cerrar otras para que hubiera el grado de calor exacto y una cierta clase de luz en cierta dirección, y un silencio absoluto. Neruda se durmió al instante, y despertó diez minutos después, como los niños, cuando menos pensábamos. Apareció en la sala restaurado y con el monograma de la almohada impreso en la mejilla.
        
— Soñé con esa mujer que sueña —dijo. Matilde quiso que le contara el sueño.
         
— Soñé que ella estaba soñando conmigo —dijo él.
         
— Eso es de Borges —le dije. Él me miró desencantado. —¿Ya está escrito?
         
— Si no está escrito se va a escribir alguna vez — le dije. Será uno de sus laberintos.
         Tan pronto como subió a bordo, a las seis de la tarde, Neruda se despidió de nosotros, se sentó en una mesa apartada, y empezó a escribir versos fluidos con la pluma de tinta verde con que dibujaba flores y peces y pájaros en las dedicatorias de sus libros. A la primera advertencia del buque buscamos a Frau Frida, y al fin la encontramos en la cubierta de turistas cuando ya nos íbamos sin despedirnos. También ella acababa de despertar de la siesta.
         
— Soñé con el poeta — nos dijo.
         
Asombrado, le pedí que me contara el sueño.
         
— Soñé que él estaba soñando conmigo —dijo, y mi cara de asombro la confundió— ¿Qué quieres? A veces, entre tantos sueños, se nos cuela uno que no tiene nada que ver con la vida real.
         
No volví a verla ni a preguntarme por ella hasta que supe del anillo en forma de culebra de la mujer que murió en el naufragio del Hotel Riviera. Así que no resistí la tentación de hacerle preguntas al embajador portugués cuando coincidimos, meses después, en una recepción diplomática. El embajador me habló de ella con un gran entusiasmo y una enorme admiración. “No se imagina lo extraordinaria que era”, me dijo. “Usted no habría resistido la tentación de escribir un cuento sobre ella”. Y prosiguió en el mismo tono, con detalles sorprendentes, pero sin una pista. que me permitiera una conclusión final.
         
— En concreto — le precisé por fin —: ¿qué hacía —Nada — me dijo él, con un cierto desencanto —. Soñaba.

"