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domingo, 29 de junho de 2014

Tiago Craveiro



É EXTRAORDINÁRIA esta mania tão portuguesa de tentar encontrar bodes expiatórios para justificar desilusões, derrotas e erros. E isso vale para tudo, desde a política ao futebol, passando pela vida empresarial, pela actividade cultural, por todo o lado. O que se está a passar à volta da lamentável prestação da selecção portuguesa em terras brasileiras não foge à regra… E quando todos sabemos que os responsáveis pela imagem inenarrável e degradante que a equipa nacional deixou neste Mundial são, à partida, o técnico e uma significativa maioria dos jogadores, eis que tentam lançar para a fogueira o nome de alguém que não tendo qualquer responsabilidade na escolha dos jogadores, na sua preparação, ou seja no seu desempenho, é aparentemente o elo mais fraco de toda a história: Tiago Craveiro, o director-geral da Federação Portuguesa de Futebol.
Conheço o Tiago há muito tempo, era ele um jovem jornalista, tinha talvez uns 23  ou 24 anos. Foi numa campanha eleitoral, estava eu de um lado e ele de outro - ou seja, eu desempenhava funções na estrutura dessa campanha e ele cobria-a como repórter. O Jorge Lemos Peixoto, que então estava comigo nessas tarefas, está aí para certamente corroborar o quanto o Tiago me impressionou, tanto pelo seu profissionalismo como pelo seu carácter. Nele sempre pudemos confiar, sempre soubemos que com ele o que era off era off e o que por vezes era combinado era cumprido à certa - algo que muito jornalista que por aí anda (e andou) não se pode orgulhar. 
Resumindo: tenho do Tiago Craveiro a imagem de um homem sério, íntegro e profissional.E não resisto a contar (espero que ele não se chateie…) um episódio vivido apenas há semana e meia quando, três(!) minutos após ter publicado na minha página de Facebook um post pouco simpático para a selecção, mais concretamente acerca da eleição de Campinas como quartel-general, recebi uma mensagem privada do Tiago: "Se me quiser perguntar a razão da escolha de Campinas, eu respondo (…) tem algum número brasileiro onde eu possa ligar-lhe?". Dito e feito, pouco tempo depois o telefone tocou. Do outro lado, calma e serenamente, o Tiago apresentou-me algumas justificações, algumas que eu considerei como plausíveis e aceitáveis para essa escolha, o que me permitiu minutos depois, na mesma página de Facebook, citando "um velho conhecido" (no caso o Tiago Craveiro) apresentar essa justificação. Escrevi então: "Aceite-se ou não, finalmente aqui está uma justificação que considero plausível para a escolha de Campinas(…)". Acho que este episódio mostra quem é e como se comporta o Tiago - discreto, profissional e eficiente. E atento ao mais ínfimo pormenor, pronto a defender aquilo em que acredita e porventura fazendo o que alguns, por não lhes convir, não quiseram fazer: defender a selecção e o próprio técnico. Pode-se estar, ou não, de acordo com o Tiago nessa defesa, mas uma coisa é certa: ao fazer isso, ao não medir esforços para defender a sua "dama", o Tiago Craveiro fez mais que a sua obrigação. Podia ter ficado "nas covas", "na sua" como se diz, tal como tantos outros que  assobiaram para o lado e viraram as costas para os problemas. Mas não, ele optou por tentar ajudar a defender o que ele achava ser necessário defender, demonstrando também o quanto estava envolvido e comprometido com a missão em que participava. Pudessem todos orgulhar-se do mesmo…
Um abraço, Tiago!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A importância de Soares e o dilema de Seguro


A ARRUAÇA em que se tornou a luta pelo poder no Partido Socialista dificilmente terá outro desfecho que não a cisão, especialmente se António José Seguro levar a melhor nesta guerra fraticida que se instalou no seio dos socialistas. E para isso é só Mário Soares querer ou, trocando por miúdos, aquele que é ainda hoje a principal referência dos socialistas afirmar publicamente a sua intenção em demitir-se do partido que fundou.  Um cenário não tão inadmissível quanto possa parecer à primeira vista, especialmente para quem, como Soares, escolheu claramente a forma combativa como quer "marcar" os últimos anos da sua vida política.
E esse é um dos grandes problemas (ou dilemas, como quiserem) com que Seguro se defronta neste momento: pode ganhar o partido numa noite e, no dia seguinte quando acordar, esse mesmo partido pode estar reduzido a metade...

domingo, 22 de junho de 2014

Miguel Gaspar


HÁ PESSOAS que, mesmo nós não as conhecendo, conseguem-nos transmitir confiança, credibilidade e simpatia. O Miguel Gaspar era uma dessas pessoas. Acho que o vi apenas uma vez e que trocámos um sorriso de circunstância, como de alguém que sabe quem é o outro, mas a quem nunca foi apresentado. Mas conhecia-o, isso sim, de o ler há muito, salvo erro desde o tempo em que ele assinava uma inteligente crónica de televisão - creio que no "Independente". Morreu hoje. Como dizia a minha amiga Inês Serra Lopes há bocadinho quando lhe liguei a dar a notícia, "nós vivemos demais" -  os que ainda andamos por cá e que de vez em quando vemos partir os outros, os que fazem falta. Pois é, é uma merda…
Um beijinho, Filipa!

sábado, 21 de junho de 2014

BES: outro governo, a mesma tentação?

                                                                                            Foto: Jornal de Negócios

UMA VERDADEIRA “solução-tampão”, a encontrada para o BES, a confirmar-se a “dupla” Paulo Mota Pinto-Amílcar Morais Pires na condução dos destinos do banco. Especialmente porque o mandato termina já daqui a menos de um ano, em Março de 2015, ou seja dentro de oito meses. E também porque Morais Pires, o “afilhado” e permanente "sombra" de Ricardo Salgado está, também ele, na mira de alguns processos que correm em Portugal e Angola e que contribuíram para a queda do próprio Salgado – o que pode levar o Banco de Portugal a ter de intervir relativamente ao seu nome. Isto já para não falar da clara oposição do comandante António Ricciardi e do seu filho José Maria ao seu nome.
Por outro lado só espero que este “folhetim BES” não seja uma reedição do que sucedido há uns anos com o BCP, vítima de um verdadeiro “assalto” por parte do governo de então e do partido que estava no poder. Eu bem sei que o partido no poder é outro, mas muitas vezes a tentação é a mesma...

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Mediocridade, incompetência e falta de liderança


QUEM TEVE oportunidade de falar comigo sobre a selecção nos últimos meses sabe bem que não é de hoje que eu a considero como uma equipa medíocre, comandada por alguém que não possui nem talento nem categoria para exercer o cargo de seleccionador nacional. Não vou entrar naquelas especulações sobre se esta é, ou não, a selecção do empresário "x" ou "y", ou no debate inconsequente acerca se o fulano devia ter sido convocado no lugar de beltrano. A questão para mim resume-se tão só a isto: falta de categoria. Ponto final.
Pode até lá o rapazolas da Madeira ser considerado o melhor jogador do mundo (acredito que sim, tudo bem...), podemos mesmo ocupar (ainda não percebi bem como, mas pronto…) um 4º lugar no ranking da FIFA no que diz respeito às melhores selecções do mundo (depois da Espanha, Alemanha e Brasil e à frente de, por exemplo, da Argentina, Itália, Inglaterra, Holanda e França - alguém um dia vai ter de explicar-me como isso é possível...)  mas uma coisa é certa e entra pelos olhos dentro até de quem não percebe patavina de futebol: uma selecção que tenha Paulo Bento como técnico e que coloque em campo jogadores como Rui Patrício, João Pereira, Miguel Veloso, Raúl Meireles, Hugo Almeida, Éder, André Almeida, já para não falar de outros, não passa de uma selecção medíocre e condenada ao fracasso. Dirão que é o que temos. Pois sim, será. Mas eu sou dos que acredita que com alguém que fosse, na verdadeira acepção da palavra, um "condutor de homens", alguém que possuísse capacidade de liderança, estes  jogadores medíocres podiam, porventura, ser medianos, permitindo assim à selecção nacional possuir um desempenho que não envergonhasse como  hoje ocorreu no relvado do Fonte Nova. Bem como não fizessem as figuras tristes que fizeram  quando, ao verem-se a perder, resolveram "distribuir fruta" a torto e a direito ou  reclamarem faltas inexistentes, demonstrando assim que, exactamente por serem medíocres, não sabem perder. E quem esteve bem atento, viu bem que não foi só o Pepe a portar-se como um energúmeno. É preciso dizer mais alguma coisa?

P.S. - Oxalá a selecção triunfe em Manaus e em Brasília e se qualifique para os oitavos-de-final. Porém isso não invalida uma palavra do que acabei de escrever, ou seja, que a selecção portuguesa é formada maioritariamente por jogadores medíocres e que é comandada por algiém que não possui nem capacidade nem competência para ser seleccionador nacional. Ponto final (outra vez).

sábado, 14 de junho de 2014

Um abraço, Augusto!

HÁ UMAS horas, através de mensagem, perguntei ao meu amigo Augusto Freitas de Sousa quem tinha sido despedido do "Diário de Notícias". Ele deu-me dois ou três nomes e agora, passado um bom bocado sobre a sua resposta, enviou-me outra mensagem. "Ah... e eu do JN". Não podendo aqui reproduzir (por razões que se prendem com o necessário decoro…) a reacção que tive (e lhe transmiti) perante essa notícia, resta-me agora  resumi-la a algo que posso denominar como um misto de estupefacção e incredulidade. E não o faço por ser amigo do Augusto ou sequer por ter sido responsável da sua vinda para Lisboa (já lá vão mais de 20 anos, estávamos os dois na então pública Rádio Comercial) ou por, mais tarde, não ter prescindido da sua colaboração  no "Tal&Qual" ou em outros projectos em que estive envolvido. Não, faço-o porque dificilmente encontramos em Portugal meia-dúzia de repórteres com o instinto, o "faro" e a capacidade do Augusto. Talvez por isso nunca me passou pela cabeça que ele pudesse integrar o lote das dezenas de jornalistas que a administração "recauchutada" da Controlinveste resolveu despedir. Erro meu… Arredado destas coisas dos jornais já lá vão uns bons anos, muitas vezes esqueço-me que, salvo honrosas excepções, eles hoje estão entregues à mediocridade, aos sabujos, aos cretinos e aos idiotas. Aos que, sempre de espinha dobrada perante quem lhes vai pagando o ordenado e passando a mão pelo pêlo e à imagem e semelhança do que fazem aos cachorros que têm lá em casa, não hesitam em abanar a cauda em sinal de satisfação quando os donos lhes atiram um biscoito de pedigree pal. Camelos...

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Um craque chamado Fidel...



ESTA FOTOGRAFIA já tem uns valentes anos. Foi tirada em Havana no início dos anos quarenta, durante um jogo que opôs uma equipa do Colégio de Belén a uma outra da Casa de Beneficiencia y Maternidad, formada por órfãos que eram acolhidos por essa instituição. O segundo (a contar da esquerda para a direita), logo através do guarda-redes da equipa de Belén, é - imaginem lá! - nada mais nada menos que Fidel Castro, então um jovem de 16 ou 17 anos e que jogava na posição de interior-direito… Se nesse jogo Fidel marcou ou não, isso já ninguém se lembra - resta apenas o resultado final do desafio disputado num pelado da capital cubana: 4 a 0, a favor da equipa "belenense"!
Embora não fosse titular indiscutível da equipa, Fidel é recordado como "corpulento, musculado, muito forte e fundamente muy bravo, muy bravo", lembra um seu antigo colega. Já o próprio Fidel, esse, numa conversa informal mantida há poucos dias a propósito do campeonato do mundo que avizinha, recordava esses seus futebóis: "Era delantero, corría bastante. Fue en quinto grado cuando empecé‚ en el colegio Dolores, en Santiago de Cuba, en un patio de cemento, y el balón no era como los de ahora. El fútbol me ayudó a tener voluntad, a ejercer mi capacidad de resistencia física, me produjo placer, satisfacción, espíritu de lucha y competencia".
Tido por normalmente empenhar-se em fazer tudo e mais alguma coisa da melhor maneira que pode e sabe, é caso para nos interrogarmos se Castro não terá passado, também ele, ao lado de uma grande carreira como futebolista?

domingo, 8 de junho de 2014

Copa 2014: e a "culpa" é do português...



POIS É, não tem jeito… Os brasileiros bem podem agradecer a um português(!) o facto dos portões da Arena Corintians irem-se abrir exactamente daqui a uma semana para o jogo inaugural do Campeonato do Mundo de futebol entre o Brasil e a Croácia. Conhecido como "o xerife da Copa", Luís Fernandes, secretário-executivo ("número dois") do Ministério do Esporte e que os amigos tratam por "Luís Português" foi o responsável, desde há precisamente um ano, por fazer a "ponte" entre o governo de Dilma Rousseff e a FIFA de Joseph Blatter e Jerôme Valcke, junto de quem conseguiu construir uma imagem de competência e seriedade que fizeram dele, além de interlocutor privilegiado, uma espécie de "garante" do empenhamento das autoridades brasileiras no sucesso da controversa Copa.
Cientista político, nascido no Texas e filho de pais portugueses, Luís Fernandes foi viver para Portugal com apenas 10 meses, de onde ainda jovem partiu para o Brasil. Mantendo sempre uma estreita ligação com Portugal, que visita com frequência, Fernandes graduou-se em Relações Internacionais em Georgetown, doutorou-se no Rio de Janeiro e desempenhou alguns cargos públicos nos governos do PT, para além de ter sido vice-presidente do Vasco da Gama. Membro do Comité Central do PC do B, tido por ser alguém em quem Dilma deposita uma grande confiança técnica e pessoal, foi chamado a assumir o dossier durante a crise de Junho passado, quando milhares de brasileiros saíram às ruas antes e durante a Copa das Confederações. Mais do que um "bombeiro", Fernandes foi um negociador na verdadeira acepção do termo e o seu perfil "discreto, metódico e articulado" transformaram-no rapidamente em alguém que conseguiu inverter desgastada relação entre o governo brasileiro e a exigente FIFA que, há um ano e já durante a Copa das Confederações, esteve a ponto de anunciar o seu cancelamento.
A ele, segundo a edição de hoje da revista "Época", deve o Brasil a realização da Copa do Mundo. Sem ele, escreve a jornalista Flávia Tavares no artigo "O dia em que (quase) perdemos a Copa", era mais que certo que "a vitória teria sido do #não vai ter copa". Ou seja, para os brasileiros que (ainda) contestam a realização do torneio, "a culpa é do portuga"... Ainda bem!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Um "trunfo" chamado Joaquim Barbosa


A SONDAGEM divulgada hoje pela "Folha de S. Paulo" sobre a intenção de voto nas eleições presidenciais brasileiras do próximo dia 5 de Outubro traz um dado que deve ser tido em conta nos cenários que se vão desenhar nas próximas semanas, ou seja, na última fase da longa pré-campanha eleitoral.
Quando confrontados com uma questão sobre a influência que algumas figuras públicas podem, ou não, exercer sobre a preferência de voto, 52 por cento dos mais de 4 mil inquiridos indicam o controverso juiz Joaquim Barbosa (relator do processo do "mensalão" e actualmente à frente do Supremo Tribunal Federal) como alguém que está em condições de o fazer. Numa questão “estimulada” colocada pelo instituto “Datafolha”, 26% dos eleitores afirmam que "com certeza" votariam num candidato indicado por Barbosa, enquanto além disso, outros 26% admitem que "talvez" pudessem votar em alguém apoiado por ele. E o mais curioso é que Barbosa é apenas superado pelo ex-presidente Lula da Silva que recebe somente mais 8 pontos que o ainda presidente do STF – 36 por cento dos inquiridos asseguram que seguiriam uma indicação de voto do antecessor de Dilma Rousseff e 24 que talvez o fizessem… Ou seja 60 por cento - apenas 8 pontos mais que Barbosa que, há poucos dias, anunciou a sua aposentação nas próximas semanas.
Essa revelação, a par deste indicador hoje divulgado pela “Folha”, poderá transformar o juíz num “trunfo” apetecível a ser jogado por Aécio Neves, o candidato mais conservador no pleito que se avizinha. Não me espantaria que, mais dia menos, o candidato do PSDB anunciasse alguns nomes a fazer parte do seu governo em caso de vitória: por exemplo Armínio Fraga na pasta da Fazenda e… o populista Joaquim Barbosa à frente da Justiça…
Seria um anúncio que obviamente radicalizaria a campanha e bipolarizaria a disputa eleitoral, extremando posições e colocando-a numa lógica esquerda-direita, em que curiosamente o grande prejudicado, mais do que a própria Dilma, seria Eduardo Campos, o ex-governador de Pernambuco que tem em vão tentado afirma-se como uma “terceira via”, captando o descontentamento que claramente existe em realação ao governo por parte de algumas franjas de um eleitorado tradicionalmente próximo do PT. É caso para dizer que, mais uma vez,  "quem se lixa no mexilhão"...

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Olé!

HÁ PRATICAMENTE seis meses, mais concretamente a 17 de Janeiro, a propósito de uma inesperada demissão de Teresa Leal Coelho de uma das vice-presidências do grupo parlamentar do PSD, escrevi o seguinte: 
"Porventura estarei a ser injusto, mas já me passou pela cabeça que esta demissão de Teresa Leal Coelho (…) , alegadamente por discordar da posição assumida pelo seu partido na questão da coadopção, poderia estar também relacionada com a esperada nomeação do seu marido, actualmente a desempenhar as funções de chefe de gabinete do primeiro-ministro, para embaixador em Madrid. A chefia da missão na capital espanhola está neste momento entregue a José Tadeu Soares que está a ponto, por limite de idade, de  passar  à  chamada "disponibilidade" e obrigatoriamente por lei regressar a Lisboa. Recorde-se que Francisco Ribeiro de Menezes, com apenas 48 anos, foi algo surpreendentemente promovido a embaixador full rank no início de Dezembro último.
Peço imensa desculpa, mas no momento em que é anunciado que o casal Ribeiro de Menezes está a começar a fazer as malas para se mudar para o número 5 da Calle Pinar na capital espanhola, não resisti a recordá-lo...

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Monárquicos ou "juancarlistas"?

JÁ LÁ vão uns oito ou nove anos quando vindo de Madrid, numa viagem de regresso a Lisboa, tive oportunidade de falar longamente com um amigo que lá tinha servido como nosso embaixador e que, independentemente da natural simpatia que lhe inspirava um cortês e sempre disponível Juan Carlos, não hesitou em confessar-me a sua convicção em que dificilmente a monarquia espanhola sobreviveria a uma "saída de cena" do monarca espanhol. Dizia-me então esse meu amigo durante um agradável jantar no parador de Oropesa: "Ó Zé Paulo, mais do monárquico, o espanhol é juancarlista. Garanto-lhe que a monarquia não resiste à sucessão…". Desde aí , aguardei essa mesma sucessão para ver se, de facto, a Espanha é mais republicana do que agarrada a estas coisas da "coroa e da corte". Será?

PS - Uma coisa é certa, diga o que disserem e pense cada um de nós o que pense sobre o regime monárquico e acerca do próprio (ainda) Rei de Espanha: o nosso País deve muito a Juan Carlos - quanto mais não seja a contribuição que deu para a quebra daquele paradigma que garante que... "de Espanha nem bom vento nem bom casamento". Venha daí a brisa do lado de lá do Guadiana!

domingo, 1 de junho de 2014

Mário Soares e a sua "bomba atómica"


A ENTRADA em cena de Mário Soares no confronto que opõe António Costa e António José Seguro pela liderança do Partido Socialista pode vir a ter um peso decisivo num desenlace final a favor do autarca lisboeta, especialmente agora que Seguro optou por uma estratégia que visivelmente pretende ganhar tempo para permitir-lhe continuar à frente dos socialistas. É que quem conhece bem Soares, aposta singelo contra dobrado que o velho líder socialista possui uma carta na manga que não hesitará em jogar de forma a arredar definitivamente Seguro da liderança dos socialistas: a sua própria demissão de militante. Considerada como "uma bomba atómica", uma atitude desse género por parte de Soares faria pender definitivamente a balança a favor de Costa, mesmo que aparentemente fracturasse o partido num primeiro momento: "Se o Soares entrasse pelo Rato dentro para entregar o cartão de militante, o Seguro não aguentava duas horas na cadeira de líder…", garante quem conhece (bem) os meandros de um partido que ainda possui uma ligação umbilical fortíssima com o seu fundador. E é essa a cartada que Soares não enjeitaria em jogar e que Costa tem como "trunfo" na guerra aberta que neste momento abriu pela liderança do Partido Socialista.