MESMO TENDO deixado de ser ministro dos Negócios Estrangeiros desde finais de Julho, Paulo Portas continua a insistir em relacionar-se directamente com as várias embaixadas portuguesas espalhadas pelo mundo com um à-vontade que está a colocar o actual ministro em maus lençóis. Sem atender a qualquer regra ou tradição, Portas insiste, desde o seu gabinete nas Laranjeiras, em transmitir directivas aos embaixadores portugueses espalhados pelo mundo sem passar "cavaco" ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (algo que nem o gabinete do primeiro-ministro faz…) e chega mesmo em conversas mantidas com representantes estrangeiros ou diplomatas portugueses a ignorar ou desvalorizar o seu sucessor nas Necessidades, continuando a alardear um comportamento de ministro dos Negócios Estrangeiros "de facto". Essa postura de Portas começa a criar um crescente mau-estar no governo. Não propriamente nas Necessidades onde Rui Machete continua pura e simplesmente a ver navios e onde o seu chefe de gabinete é homem de confiança de Paulo Portas e foi "herdado" da sua equipa, mas sim na residência oficial do primeiro-ministro onde os sucessivos relatos de vários embaixadores portugueses têm encontrado eco em Francisco Ribeiro de Menezes, o diplomata que chefia o gabinete de Pedro Passos Coelho e de quem é amigo pessoal.
Este estado de coisas só é possível pela estado de "extrema fragilidade política" em que se encontra Machete, agora já não só devido às trapalhadas em que esteve envolvido enquanto dirigente, accionista da SLN e presidente da FLAD, mas agora também após a gaffe protagonizada aos microfones da Rádio Nacional de Angola e que politicamente o reduziu a uma necessária e óbvia insignificância que só a já conhecida teimosia do primeiro-ministro o mantém como ministro.
Aliás a este propósito, seria curioso percebermos a quem de facto interessou a divulgação pública, através do "Diário de Notícias" e com quase um mês de atraso, da desastrada declaração de Machete em Luanda. E na prática, quem lucrou com ela? E já agora, como é que a informação demorou um mês a chegar ao jornalista que aliás, diga-se de passagem, obteve assim um excelente "furo"? Será que ali não houve algum prestimoso e diligente "dedo" que, embora tardiamente, tenha empurrado para fora das Necessidades algum telegrama da nossa representação em Luanda? Uma coisa é certa: a partir desse episódio e somando-o a toda a "carga" que já trazia do seu passado nebuloso, Machete perdeu todo e qualquer espaço e margem de manobra para chefiar a diplomacia portuguesa. Que pelos vistos continua a ser manobrada pelo anterior titular, agora a partir do palacete do conde de Farrobo...