A DETENÇÃO de José Sócrates e todas as "réplicas" que este verdadeiro terramoto inevitavelmente provocará na cena política nacional pode conduzir a um realinhamento de todo o cenário presidencial, com o (re)surgimento de alguns candidatos e mesmo o estabelecimento de alianças partidárias que hoje podem parecer inexequíveis, mas que podem ser a última "cartada" que os partidos do chamado "arco constitucional" possuem para tentar recuperar a credibilidade e confiança que o regime e a classe política tem perdido nas últimas décadas.
Apesar dos seus 79 anos de idade e de um visível distanciamento da cena política a que se votou nos últimos anos, Ramalho Eanes tem condições objectivas para - se assim o desejar - ser o próximo inquilino do palácio de Belém. Basta-lhe dar um sinal claro nesse sentido, colocar-se, naquele seu jeito, "ao serviço da República", comprometer-se em exercer apenas um único mandato, surgindo assim como o candidato suprapartidário que facilmente "arrastará" os principais partidos num apoio e deixará outros, caso do PCP, numa situação não muito "confortável". Basta ele querer. Porque a PS e PSD não restará outra coisa senão repetir, 40 anos depois, uma maioria que "escolheu" o primeiro Presidente da República constitucionalmente eleito do pós-25 de Abril.