ACHO QUE foi Mário Wilson que há uns anos disse qualquer coisa acerca da facilidade em passar-se de "bestial a besta"... Lembrei-me do "velho capitão" há uns dias no Porto, quando me sentei à mesa do "Cafeína" e me aprestava a pedir o famoso "bacalhau à Dilma", assim baptizado em honra da presidente brasileira Dilma Rousseff que, há três anos anos e durante uma breve escala técnica naquela cidade, escolheu aquele que é sem dúvida um dos melhores restaurantes da Invicta como poiso para almoçar. Mirei e remirei a lista e do "bacalhau à Dilma" nada, tinha eclipsado-se: "Estranho, ainda há um mês atrás encabeçava os pratos de peixe...", pensei com os meus botões. Perguntei ao empregado que me atendia sobre o "paradeiro" do prato. A resposta veio pronta: "Está aí, é o bacalhau gratinado com 'ailoi', miga de grelo e radicchio". Então e o nome, perguntei? O empregado baixou ligeiramente o tom de voz: "Tínhamos muitos clientes brasileiros que protestavam...". Pois é, como dizem do lado de lá do Atlântico... "dançou"!
... ou "quem não tem cão, caça com gato...", que é como quem diz, uma página e um espaço estritamente pessoal, onde também se comenta alguma actualidade, se recordam histórias de outros tempos e se tenta perceber o que está por detrás de algumas notícias...
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
O "vale tudo" de Paulo Portas
A ANUNCIADA auditoria mandada executar pelo ministro Pedro Mota Soares à Santa Casa da Misericórdia num momento em que os candidatos presidenciais começam a colocar-se na grelha de partida e quando Pedro Santana Lopes aprestava-se a ocupar o seu lugar só surpreende quem não conhece Paulo Portas. Ao longo da sua vida, Portas dedicou-se a tentar enlamear a vida de quem o rodeia, sempre em nome de uma lógica de conquista de poder e em ver-se livre de quem possa atrapalhar os seus planos - foi assim no "Independente" onde acumulou "vítimas", foi assim no CDS (quem não se lembra das traições que foi alvo Manuel Monteiro, só para citar um nome?) foi assim nas trapalhadas menos claras em que se viu envolvido nos últimos anos, desde o "caso Moderna" até este intricado e polémico "folhetim" dos submarinos.
Para Portas, cujas ambições presidenciais são a médio-prazo, Santana Lopes é um alvo a abater - teme-o, sabe-o capaz de ocupar o seu espaço político e é urgente detê-lo. Esta não e a primeira vez que Portas traiu Santana. Fê-lo enquanto director do "Independente", fê-lo enquanto seu ministro e parceiro de coligação no XVI Governo Constitucional (e até com Jorge Sampaio e José Sócrates...) fê-lo quando, há três anos e meio, tentou impedir a sua ida para a Santa Casa da Misericórdia. Este é o verdadeiro Portas, o Portas das intrigas, das maledicências, das sacanices, o Portas das manhas e do "vale tudo" - no fundo é o Portas que ao longo da vida não hesitou em desferir facadas nas costas de quem finge abraçar. Este é o Portas que, ao mesmo tempo que fingia estar com Santana, se encontrava às escondidas com Sampaio ou Sócrates; este é o Portas que piscou o olho a António Guterres; este é o Portas que ao mesmo tempo que estende a mão a Pedro Passos Coelho manda recados a António Costa; e este é o Portas que ao longo da vida sacrificou amigos em nome de uma ambição sem limites. No fundo este é o Portas em que é impossível confiar, que não hesita em apunhalar pelas costas quem se colocar à sua frente...
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
O meu amigo Alexandre Pais
HÁ PESSOAS que têm o "hábito" de ter razão antes do tempo. O meu amigo Alexandre Pais, um dos mais sólidos, sérios e
brilhantes jornalistas que conheci ao longo dos meus mais de 20 anos de
profissão, é desse tipo de pessoas. Durante anos, "entreteve-se" (e este
"entreteve-se" é obviamente uma figura de estilo…) a imaginar e
lançar projectos jornalísticos que, podendo não dar certo naquele momento, era
certo e sabido que anos mais tarde o tempo iria provar da sua razão. Foi assim
com o “Off Side”, porventura o
primeiro jornal desportivo que abordou o futebol com outro olhar e
linguagem; com a “Élan”, uma revista
masculina que foi uma autêntica pedrada no charco naqueles anos ainda acinzentados; com a “Tomorrow”, que não só pelo formato, esta
nova revista do “Expresso” me fez de algum modo recordar; pela “Teenager”, a primeira revista virada
para os adolescentes e que foi pioneira no sector; e com a “Dona”, a primeira rival da “Nova Gente”
e percursora desta verdadeira enxurrada de publicações dedicadas ao chamado beautiful people.
Como eu escrevi um pouco acima, o
Alexandre é um dos mais sólidos, sérios e brilhantes jornalistas que conheci – pena foi que só tenha trabalhado com ele nos
meus últimos anos como jornalista… Quando o conheci, a mesquinhez de quem
decidia tinha feito com que o tivessem “encostado” num (passe a expressão…)
canto da redacção do “Tal&Qual”, onde aguardavam que o Alexandre, mais dia
menos dia e cansado de algumas desconsiderações, batesse a porta e os poupasse
à óbvia indeminização. Pediram-me na altura: “Faz-lhe a vida negra para ver se ele se vai embora, ele é muito caro…”.
Não fiz, bem antes pelo contrário – não descansei enquanto não encontrei uma “fórmula” que permitiu ao Alexandre ter a
importância e o destaque que ele merecia na estrutura de qualquer jornal. Sem
exagero, ao longo daqueles dois anos, o Alexandre foi o verdadeiro “pilar” do “Tal&Qual”,
contribuindo com as suas experiência e notável sabedoria para, muitas vezes,
dar alguma consistência a um jornalismo que tinha uma óbvia tendência para
“pisar o risco”. E apesar de um ou outro “torcer de nariz” por parte de alguns mais
susceptíveis, não havia texto que não passasse pelo seu exigente crivo, até
para ele dar-lhe o seu indispensável “jeitinho” e uniformizar a escrita do “T&Q”
– a começar pelos meus. Bons tempos esses… E depois também, note-se, existia o “outro” Alexandre
Pais, o Alexandre fora do jornalismo - e esse era também era um Alexandre
confiável, sereno, leal, discreto, alguém feito de uma “massa” que hoje não é
muito vulgar encontrarmos.
Um dia, no Verão do último ano dos anos
90, resolvi deixar o jornalismo. O Alexandre, claro, ficou. E nem imaginam o gozo que me
deu, poucos meses mais tarde, a vê-lo, primeiro, à frente do “Tal&Qual”; depois a
protagonizar o grande arranque do “24 Horas”; e finalmente a tomar conta do
“Record”…
Não sei porque raio me deu para
escrever sobre o Alexandre Pais, se calhar foi por lê-lo hoje de manhã na
“Sábado”, onde escreve semanalmente uma página que é a primeira que eu procuro
quando folheio a revista – talvez, não sei… O que sei, isso sim, é que as
poucas saudades que tenho do jornalismo são as muitas saudades que tenho,
tantas vezes, dele. Grande abraço, careca!
O advogado, as fontes e as "manchetes"...
EU PERCEBO que o advogado de José Sócrates suba as paredes todos dos dias em que o "Correio da Manhã" dedica uma manchete ao seu cliente. Aquilo incomoda? Ah, incomoda - claro que incomoda! Aquilo prejudica a estratégia da defesa? Claro que sim, que prejudica! Mas isso é uma coisa - a de incomodar, de perturbar, de fazer mossa. Outra coisa é vir contra-atacar acusando o jornal de pagar as notícias que publica... Até porque João Araújo sabe bem (e há muitos anos...) como funcionam estas coisas das fontes, nomeadamente entre advogados, juízes e jornais. Foi assim que muitos jornais publicaram, durante anos, algumas "cachas" como, por exemplo, o "Expresso", quando nos anos 80 publicou alguns documentos que foram determinantes para a condenação de Otelo Saraiva de Carvalho no âmbito do processo das "FP-25". E que eu saiba, ninguém pagou nada a ninguém...
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
João Araújo: a irresistível queda para a graçola fácil...
GARANTO QUE só à terceira ou quarta vez é que acreditei naquilo que estava a ouvir... Pode parecer muito estranho, mas não consigo achar normal que o advogado de José Sócrates (e duvido que o próprio antigo primeiro-ministro também ache...), por muito blagueur ou por muita graça que se ache a si próprio, possa afirmar alto e bom som o que ontem afirmou, numa entrevista à RTP-I, sobre o seu próprio cliente... Pergunta o jornalista a propósito das razões poderiam ter motivado Sócrates a confiar-lhe a sua defesa: "(...)os senhores já eram amigos?". Responde João Araújo: "Era e sou amigo dele, não há muito tempo tratei-lhe de uns assuntos familiares, simples, à minha medida e como estava mais à mão, o homem escolheu-me para tratar disto(...)". O jornalista insiste: "Mas já tinha uma relação com o engenheiro José Socrates?". Entre risadas, o advogado esclarece: "Sim, uma relação de amizade, de pequena amizade, não é daqueles amigos a quem eu empresto dinheiro...". Desculpe, importa-se de repetir?!
Profissão? "Personalidade"...
A ARQUITECTA Helena Roseta de vez em quando resolve fazer prova de vida e, ao jeito daquela imaginária prima do Solnado que gostava de "dizer coisas", não resiste em sair-se com uns lugares comuns, daqueles que ficam "bem", que não adiantam nem atrasam, mas que lhe dão uns efémeros segundos de rádio no noticiário das 16 ou das 4 da manhã ou duas mal-amanhadas linhas numa notícia de pé de página feita em cima de um take da Lusa. Então se lhe põem um abaixo-assinado à frente, é certo e sabido que a D. Helena não hesita e, pouco se importando com o tema, rapa da caneta e, zás!, toca a assinar... É sobre a TAP? Venha ele! Sobre a supressão da carreira 32? Força! Sobre o atraso nas obras de alargamento da estrada municipal nãoseideonde? Porque não? Sobre as raposas de cauda roxa às bolinhas amarelas? Leva à Roseta, que ela assina! De tanto assinar, a D. Helena até já deve ter um calo no indicar direito e certamente já trocou formalmente a sua profissão de arquitecta pela de "personalidade", que é um termo com que os nossos jornalistas gostam muito de baptizar as habituais luminárias que, a propósito de tudo e de nada, gostam de fingir que têm opinião sobre tudo e mais alguma coisa, estilo Freitas do Amaral e Bagão Felix, ou agora também Carvalho da Silva que, perdida a liderança da CGTP, mantém a cabeça à tona de água muito à custa dumas imaginárias "causas comuns".
Na prática, D. Helena e todos esses "profissionais dos abaixo-assinados" descobriram a pouco pouco que a única maneira de resistirem ao sentimento de "marimbanço" que a opinião pública lhes dedica é atrelarem-se a alguns que, pelo seu peso político e intelectual, vale a pena escutar, independentemente de estarmos, ou não, de acordo com o que defendem. Concorde-se ou não, as opiniões de, por exemplo, um Francisco Louçã, de um Silva Lopes ou de um Pacheco Pereira contam, é gente que sabe do que fala, que não se refugia em lugares comuns e que pensa pela sua própria cabeça. Por outras palavras: mas interessa a alguém saber o que a D. Helena pensa sobre isto ou aquilo?! Ou alguém acredita que o seu nome (ou de qualquer outra dessas "personalidades") acrescentam o quer que seja a algum abaixo-assinado, carta aberta ou manifesto?!
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
A homenagem a um homem corajoso
LOUVE-SE A decisão da Câmara Municipal de Lisboa que, por unanimidade, decidiu baptizar o aeroporto de Lisboa com o nome do general Humberto Delgado, homenageando assim alguém cuja memória e controverso percurso ainda incomoda os paladinos do "politicamente correcto" que ao longo das últimas décadas têm tentado de algum modo esquecer ou subestimar o seu papel na história da resistência ao antigo regime.
Não tendo sido propriamente uma "águia" em termos políticos, nem tão-pouco um grande estratego, a Delgado sobrava o que hoje falta à esmagadora maioria dos nossos políticos: coragem. E é essa coragem, bem como uma férrea determinação e uma invulgar e notável vontade de fazer mudar as coisas que justificam a decisão agora tomada e que permitirá que, a partir de agora, possamos ouvir, cada vez que pousarmos em Lisboa, a mais do que merecida referência a quem foi, além de um homem corajoso, alguém a quem a aviação civil e comercial portuguesa muito deve.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
"Envelhecer", by Vasco Pulido Valente
TEM TANTO de genial como de chato. Cáustico, severo, brutal muitas vezes, Vasco Pulido Valente tem a extraordinária capacidade de pensar, coisa rara neste País e nos tempos que correm. Há quem goste muito dele e quem o deteste, mas poucos são os que não subscrevem grande parte do que ele escreve e raros os indiferentes ao que ele defende. Com 73 anos, a Pulido Valente naturalmente custa-lhe envelhecer neste país de Ronaldos, gourmands da treta, do jornalismo de merda, dos lugares comuns, do primado da economia, do chico espertismo. O que ele não sabe é que não é preciso ter mais de 70 anos para nos sentirmos assim, basta apenas lembrarmos-nos do "outro" País onde nascemos e vivemos muito tempo. E que este não é, sem dúvida, o nosso. Vale a pena (mesmo) ler este excelente texto de VPV:
"Crescentemente, quando vejo
televisão (sobretudo os noticiários), este Portugal onde nasci e, mal ou bem,
vivi setenta anos, me parece um sítio desconhecido e hostil, em que não posso
continuar. Os velhos são assim e já Chateaubriand dizia: é muito duro envelhecer,
mesmo se o mundo à nossa volta não muda ou muda pouco, mas muito mais duro é
envelhecer num mundo que mudou. Precisava de um livro para explicar o que me
irrita neste país novo da crise e da miséria e, como não tenho força e
paciência para começar um livro, resolvi ir escrevendo sobre as coisas que me
exasperam mais. Por exemplo:
1. A desvergonha com que a
esquerda usa a desgraça dos portugueses como argumento político. Desemprego,
impostos, salários ou, no dia-a-dia, urgências que não funcionam, o remédio
para a hepatite C que não há, outro desconto ou proibição – tudo serve, não se
percebe como, para demonstrar a enorme virtude do PS e a imensa maldade do
governo. Nós bem fugimos desta ladainha. Só que ela nunca pára e não nos larga.
2. A multidão de salvadores da
Pátria, que prometem o céu e que entretanto se juntam e separam, avançam e
recuam, como se andassem num jogo de possessos sem sentido e sem fim. E que
berram e se esgadanham por esses debates, despejando lugares-comuns com uma
estranha importância e uma grande satisfação.
3. A maneira como o jornalismo
gira à volta do desastre, do crime e da pequena história de “interesse humano”,
numa altura em que Portugal e a Europa se desfazem.
4. A obsessão incrível e
paradoxal com restaurantes, que abrem às centenas (apesar do IVA) e que se
pretendem sempre pioneiros de uma especial cozinha ou de uma extraordinária
ideia; e que têm na cave vinhos sem igual. Quem lá vai? A classe média que se
destruiu, os banqueiros que faliram, os corruptos mascarados que esperam a sua
hora?
5. A obsessão geral com o
espectáculo; com qualquer sítio onde se juntam milhares de bípedes, saltando e
pulando e muitas vezes guinchando, para seu contentamento e nossa aflição. Os
“festivais” da carne, da fruta, do queijo, do enchido, do mexilhão, do doce
regional ou nacional, da primeira coisa que dê para armar a tenda e ganhar uns
tostões.
6. A futilidade da conversa
sobre a economia, como se por aqui ainda não se percebesse que a economia não é
uma ciência, é um capítulo da política.
7. A inferioridade que revela o
culto de Ronaldo – nome obrigatoriamente precedido por o “melhor do mundo” – e
o de uma dúzia de personagens menores que se tornaram “os melhores” de qualquer
coisa ínfima ou gratuita."
Zurrices
QUANDO VEJO uma ladina criatura que dá pelo nome de Marco António Costa a perorar nos púlpitos por esse País fora como se fosse gente crescida, é inevitável que tenho de lembrar-me das fábulas de Esopo, quando os animais falavam. De facto, ao que isto chegou...
Paula Teixeira da Cruz, a "troublemaker"...
A oito meses das eleições, num momento que o governo precisa de não levantar ondas e navegar em "mar chão", as ondas provocadas pelas suas declarações pecam claramente por uma inabilidade gritante, obrigando mesmo o primeiro-ministro a vir a terreiro atabalhoadamente argumentar que as afirmações da sua ministra não passavam de "opiniões pessoais" - como se um membro do governo e vice-presidente do maior partido português possa ter publicamente opiniões pessoais sobre temas fracturantes como este, ainda por cima em ano eleitoral...
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Um ministro "ao lume"...
EU JÁ ando aqui há tempo suficiente para perceber que esta repentina e incessante "caça" ao ministro Paulo Macedo tem muito que se lhe diga - especialmente quando sabemos que o titular da pasta da Saúde é porventura o mais competente membro deste governo. E também sei, confesso, como estas coisas se fazem... A "receita" é simples: misturam-se os interesses empresariais, corporativos e políticos existentes, põe-se a ferver com uma ou outra greve sectorial, junta-se a seguir uns quantos casos que de preferência motivem alguma lógica e natural indignação na opinião pública, deixa-se a marinar nas primeiras páginas e na abertura dos telejornais e pronto... é só servir à mesa!
domingo, 1 de fevereiro de 2015
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