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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Alberto João Jardim e os "energúmenos reaccionários"

                                                                                                   Foto: José Carlos Pratas

NO MOMENTO em que tudo leva a crer que Alberto João Jardim se apresta para, ao fim de 36 (!) anos a liderar o governo regional da Madeira, ocupar o lugar de deputado em Lisboa, não resisto a recordar uma célebre entrevista que lhe fiz em 1997: "Estou-me cagando para Lisboa (...) e quero que a Assembleia da República se foda". Mas também não posso deixar de lembrar uma outra frase, proferida por Jardim nessa mesma altura e que hoje pode (ou não...) ter alguma "actualidade", chamemos-lhe assim: "Os fachos não podem comigo porque a minha guerra não é contra a esquerda, mas contra o CDS e essa corja de energúmenos reaccionários".

domingo, 21 de dezembro de 2014

O "reservista"


HÁ UNS meses, andava então muito na moda a tese do governo de iniciativa presidencial, colocou-se na ponta dos pés, desdobrando-se em proféticas e inúmeras entrevistas,  para ser o "Monti português". Agora a auto-proclamada "reserva da República" Silva Peneda anunciou que vai deixar, por motu proprio, a presidência do Conselho Económico Social no início do próximo ano - dizem que a caminho de Bruxelas onde ocupará uma vaga de assessor do luxemburguês Juncker. Habituado que está a ter-se, a ele próprio, em grande conta, não me espantava que lhe passasse pela cabeça poder vir a ser candidato à Presidência da República. Abençoado pelo actual inquilino de Belém, é claro...

O Brasil.


É UMA das melhores definições de Brasil que já me foi dado ouvir - no caso ler: "É um país que tem uma certa magia - tudo o que dá errado no mundo, aqui dá certo". A frase (genial!) pertence a Fernando Lemos,  porventura o mais ilustre português que assentou arraiais - já lá vão 61 anos... - do outro lado do Atlântico. 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Sobre o bloqueio, a partir de uma pequena história no Malecón...


JÁ LÁ vão uns bons anos, mas é uma história de que me lembro amiúde. Palco? O Malecón em Havana, por volta das 4 ou 5 da manhã. Intervenientes? Um agente da Polícia Nacional Rodoviária e eu próprio. O diálogo? Longo e à volta de um suposto excesso de velocidade por mim cometido:

- "Compañero, venía usted a más de 120 quilómetros por hora...
- Yo? No, que va!
- Seguramente que sí. Sus documentos, por favor...
- Cuál es la velocidad permitida en este tramo del Malecón?
- Sesenta quilómetros por hora, compañero!
- Entonces venía a 55 quilómetros por hora!
- Como?!
- Sí, a 55 quilómetros, máximo 60... Usted tiene radar?
- Radar? No...
- Si no tiene radar, venía a esa velocidade. Entre los 55 y los 60...
- Mira compañero: nosotros no tenemos radar para controlar la velocidad porque el imperialismo nos impone un bloqueo criminoso, condenado por la aplastante mayoría de las naciones del mundo, que nos impide de tener aceso a las tecnologías que...
- Sí, pero la verdad es que no fui controlado por radar y le aseguro que no rebasé los 60 quilómetros por hora...
- Le vuelvo a decir compañero, que la responsabilidad de la PNR no poseer radares se prende con la política imperialista con que los Estados Unidos cercan al primer territorio libre en America y impiden nuestro heroico pueblo de...
- Tendrá usted razón, pero la verdad es que si no tiene radar, yo venía a 60 quilómetros por hora (...)"

Escusado será dizer que a partir daquele momento a conversa centrou-se, não no meu excesso de velocidade (confesso, não devia vir a menos de 100 quilómetros/hora...), mas sim nas relações entre Cuba e os Estados Unidos e nas consequeências do bloqueio económico que o grande vizinho do Norte impunha ao país de Fidel Castro. Durante mais de um quarto de hora, em plena madrugada habanera, "levei" com uma retórica alinhada, marcadamente ideológica e que acabou com um forte aperto de mão, deixando para trás uma mais que óbvia e justificada multa.
Serve esta pequena história para ilustrar o quanto importante no quotidiano cubano tem sido o bloqueio norte-americano e como está presente na cabeça das pessoas, até do simples polícia que deixa para trás uma multa para debater as consequência do embargo. Ao longo destes quase 53 anos, o bloqueio tem servido um pouco para tudo: por um lado para, sem êxito, os Estados Unidos tentarem estupidamente "estrangular" um regime; por outro para esse mesmo regime justificar ardilosamente algumas faltas e outros excessos, tanto num dia a dia que teve fases muito, mas muito difíceis mesmo, como também em matéria de direitos e liberdades individuais. 
Há quem defenda que a revolução cubana se radicalizou a partir do momento em que os norte-americanos impuseram um bloqueio que julgavam ser de curto-prazo, pelo que a Fidel não lhe restou outro caminho senão "encostar" à então poderosa União Soviética que, até finais dos anos 80, sustentou na verdadeira acepção do termo, a economia cubana. Uma tese que possui alguma lógica, até porque sabemos que, ao longo da história, não foram poucas as vezes que as administrações norte-americanas mostraram ser um "zero à esquerda" no que se refere à política internacional e deram autênticos "tiros no pé"...

(Permitam-me um parêntesis: conta-se que na véspera de assinar o decreto presidencial que impunha o bloqueio a Cuba, impedindo toda e qualquer importação de produtos cubanos, o presidente John Kennedy chamou discretamente o seu assessor Pierre Salinger e pediu-lhe que providenciasse a compra de todos os charutos H.Upman que estivessem à venda em Washignton. No dia seguinte, só após assegurar-se que tinha na sua reserva mais de mil e 200 "puros", é que Kennedy rapou da caneta e assinou o famoso decreto presidencial...)

Contrariamente ao que muitos pensam, o anunciado e previsível fim do bloqueio não vai  ser o fim do chamado castrismo. Não, nem pensar. Mais uma vez, parece que os irmãos Castro trocaram as voltas à história e para quem vaticinava um fim estrondoso e até traumático, tudo indica que o castrismo vai, isso sim, pura simplesmente diluir-se. Lenta, calma e progressivamente. Sem que nem uns cantem vitória, nem outros chorem a derrota...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

TAP: imaginação, precisa-se...


A RECENTE notícia que dá como admissível para a União Europeia uma capitalização da TAP por parte do Estado português é - além de uma boa notícia -  um desafio para quem tem a obrigação de entender que governar não é só cumprir memorandos e pretensas instruções oriundas de quem não tem (ou não quer ter...) noção da importância estratégica da companhia, mas sim possuir imaginação e capacidade para perceber que a solução para a TAP não  passa nem se pode resumir a uma vulgar operação aritmética.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Eike: tudo ou nada...


SÃO 545 páginas que resumem magistralmente a vida e os negócios do controverso Eike Batista, o brasileiro que chegou a ocupar o 7º lugar na lista da "Forbes" e que foi asim uma espécie de "garoto propaganda" de um Brasil emergente dos tempos de Lula.  Curiosa e coincidentemente um Brasil que, a par do próprio Eike, começou em termos económicos a dar sinais de uma fadiga preocupante e que o afasta gradualmente de uma ribalta que ambos ocuparam durante os anos e apogeu.  "Tudo ou Nada, a verdadeira história do grupo X", de Malu Gaspar, jornalista da "Veja", é uma excelente reportagem de cinco centenas de páginas e que retrata de forma aparentemente fiel os bastidores de uma ascensão meteórica e pouco sustentada de alguém que, de forma magistral, "soube vender powerpoints como ninguém". A ascensão e a queda, diga-se de passagem...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Jose Luís Villalonga: a propósito da famíla Espirito Santo


PARA QUEM gosta de memórias e biografias, as de José Luís de Villalonga são certamente das mais apetecíveis: "Memorias no autorizadas" assim se intitulam os 4 volumes que relatam a vida cheia do marquês de Castellvell durante os 87 anos que por aqui andou. Ele foi e fez um pouco de tudo: foi actor, escritor (mais de 24 livros publicados, entre os quais uma biografia do Rei Juan Carlos e um extraordinário "Sable del Caudillo"), jornalista, porta-voz em Paris da Junta Democrática de Espanha, mas acima de tudo o que costuma chamar-se um homem do mundo e com mundo.
No início dos anos 40, o então jovem Villalonga passou pelo Hotel Palácio, no Estoril, a caminho de Londres, onde terminaria a sua viagem de núpcias. Como ele descreve no primeiro volume das suas memórias, o hotel era então uma verdadeira "torre de Babel", dada a infinidade de refugiados que ali residiam, vindos um pouco de toda a parte. Aquilo que o jovem casal Villalonga (José Luís e Pip) esperava ser um pouco mais que uma escala de cinco ou seis dias, tornou-se numa longa espera, dada a demora do consulado britânico em conceder-lhe visto, apesar de ter casado com uma cidadã inglesa. O tempo foi passando, o dinheiro (que já era pouco) acabando e, por indicação telefónica de sua mãe, decidiu contactar um amigo da família de muitos anos - Ricardo Espírito Santo: "Telefona ao Ricardo. Vai vê-lo e conta-lhe da minha parte o que ocorre. Ele resolve a situação", disse-lhe, desde Barcelona, a então marquesa de Catellvell, certa que o amigo de anos acudiria prontamente ao filho.
A partir da página 338 do primeiro volume das suas memórias, Jose Luis Villalonga relata pormenorizadamente o que veio a ocorrer posteriormente:

"(...) Ricardo Espírito Santo, dono do banco do mesmo nome, era um amigo que meus pais frequentavam muito em Biarritz. Consegui o telefone de sua casa graças a Ramon Padilla e consegui falar com o seu secretário particular, a quem, depois de dar-me a conhecer, expliquei que necessitava urgentemente de encontrar-me com don Ricardo. Ao fim de uma hora, o secretário devolveu-me a chamada e transmitiu-me o convite para almoçar no dia seguinte às duas da tarde e casa dos Espírito Santo.
Chegámos ao palacete do banqueiro certo que vamos solucionar o nosso problema (...) Acesos os charutos, Ricardo Espírito Santo propôs-nos que passáramos ao seu escritório, onde poderíamos falar tranquilamente do nosso assunto. Posto rapidamente ao corrente do que nos preocupava e da conversa telefónica com a minha mãe, o banqueiro comentou com um sorriso despreocupado:
 - Vocês estão na mesma situação que centenas de pessoas que se sentem presas no Estoril como numa ratoeira. Mas tudo tem solução, para que é que servem os amigos? - com uma caneta de ouro escreveu umas letras numa folha de um bloco e ao estender-me, acrescentou - : Vão amanhã a este endereço e perguntem da minha parte pelo senhor Soares. ele resolverá o vosso problema.(...)
O número da casa a que  os dirigimos na manhã seguinte estava a duas portas do Monte de Piedad*, a casa de penhores onde se formava uma fila de mais de uma centena de pessoas. Quando anunciei a uma espécie de porteiro que vínhamos ver o senhor Soares da parte de don Ricardo Espírito Santo, o homem apressou-se a conduzir-nos ao gabinete que procurávamos.
O senhor Soares (...) era um um orondo anão com coroinha de bispo que cada vez que mencionávamos o nome de nosso amigo fazia questão de levantar-se do assento. Após as banalidades do costume, coloquei o anão ao corrente do nosso problema. Escutou-me pacientemente e quando acabei de falar, disse:
 - Sendo amigos do senhor Espírito Santo farei o melhor que possa para atendê-los devidamente - Acomodou-se na sua cadeira e, olhando para a minha mulher, murmurou -: Tenho uma grande curiosidade para saber o que me traz a senhora...
Pip e eu olhámo-nos sem compreender.
  - Que quer o senhor dizer, senhor Soares?
 - Pergunto minha senhora, que me traz? Ouro, platina, prata, talvez diamantes ou outras pedras preciosas? O ouro é o mais fácil de penhorar, sobretudo se está em barras. A platina tem pouca saída, porque é um metal muito duro de trabalhar. E a prata, sobretudo a nossa, não vale grande coisa. No que respeita às pedras, esqueçam as safiras, os rubis e as esmeraldas, a menos que sejam de grande qualidade. Os diamantes... Ah! os diamantes! Se a senhora me traz um bom diamante, então...
Pus-me em pé e gritei:
 - Mas quem raio é você?!
O anão levantou-se também assombrado:
 - Eu? Marcelo Soares, subdirector adjunto do Monte de Piedad de Lisboa!
Pip e eu olhámo-nos de boca aberta:
 - Como? Mas isto é o Monte de Piedad?
 - Uma de suas dependências. O senhor Ricardo Espírito Santo mandou-os aqui para que não tivessem que fazer fila frente à porta.
Pip também se pôs de pé, pálida de ira:
 - Creio - tratei de intervir - que existiu aqui um mal-entendido. Muito obrigado de todas as maneiras por nos ter atendido.
 - Então os senhores não me trazem nada? Nem sequer uma pregadeira?! - queixou-se o senhor Soares - eu estava disposto, já que os senhores são amigos do senhor Espírito Santo a pagar-lhes generosamente...
 - O senhor Espírito Santo é um grandíssimo filho da puta! - bradou a minha mulher, reluzindo a sua antiga dialética de coronel polaco - E pode repetir-lhe em francês, em espanhol ou em italiano, até porque eu não sei como se diz em português! Portanto, quando o vir, traduza-lhe da minha parte! (...)

* Montepio

domingo, 7 de dezembro de 2014

Parabéns, Mário!


CONHEÇO Mário Soares ainda Mário Soares não era Mário Soares, passe a expressão - que é como quem diz há muito, muito tempo. Dos tempos em que era difícil para muitos dizer "não", nas alturas em que discordar tinha um preço que nem todos estavam dispostos a pagar. Tenho dele várias recordações, grande parte delas de infância. A mais forte,  ainda que não a mais antiga, tem a ver com a desilusão que senti quando - devia ter eu 7 ou 8 anos... - meus Pais não me deixaram acompanhá-los ao aeroporto para despedir-me dele na noite em que foi deportado para S. Tomé. 
Conheço e lembro-me bem pois do Mário Soares dos outros tempos - o do escritório da baixa, do deportado, o  da CEUD, do  exilado, ou alegria com que desembarcou em Santa Apolónia dois ou três dias após o 25 de Abril.
Nestes últimos 40 anos, estive mais vezes em desacordo que em acordo com ele. Escolhi muitas vezes um campo oposto e durante quase 30 anos não troquei sequer um "bom dia" ou "boa tarde" com quem, na prática, desde miúdo fez parte de uma "família" daquelas que não se circunscreve aos laços de sangue, mas que tem a ver com o nosso quotidiano e o dos nossos Pais. Voltámos-nos a falar há meia-dúzia de anos. Por sua iniciativa, diga-se de passagem - como se nada se tivesse passado e com a naturalidade de quem me conhece desde que nasci.
Hoje, talvez mais do que nunca, o País está dividido no que lhe diz respeito. Mas ele continua igual a si próprio - a não se calar, a defender alto e bom som o que acha como justo e correcto, motivando óbvias paixões e naturais ódios. O que é notável, convenhamos para quem cumpre, como ele, 90 anos. Goste-se muito, pouco ou nada de Mário Soares, quem tem como seus os valores da Democracia e da Liberdade deve-lhe muito. Eu devo, pese muitas vezes, repito, ter estado em desacordo com ele. Eu devo  e acho que Portugal também deve. Parabéns, Mário!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A propósito do "preso nº 44"...


ESPEREI QUASE quinze dias até resolver escrever estas linhas. Pensei que esse tempo bastasse para que o estranho júbilo em ver um antigo primeiro-ministro atrás das grades passasse e que o bom senso tomasse conta dos espíritos mais exaltados, que é como quem diz da turba ululante e frenética que inundou as redes sociais não escondendo a sua euforia pelos acontecimentos recentes.
Não gosto de José Sócrates, nunca o escondi. E não é de hoje, é de há muito. À minha maneira, combati-o o mais que pude, estive claramente do lado oposto da barricada, não me poupei a esforços para que, primeiro, ele não ganhasse as eleições em 2005, e depois, para que ele fosse afastado do poder o mais depressa possível. Não vou aqui reclamar medalhas ou reivindicar reconhecimento por há muito tempo ter denunciado "preto no branco" muito do que hoje todos o acusam e responsabilizam. Tão pouco vou cair naquela velha e chata ladainha do "'tão a ver, eu bem dizia...". Não, nada disso. Mas não resisto a reivindicar, isso sim, esse mesmo passado para poder criticar os que, agora que Sócrates está na mó de baixo, se apressam a mostrar uma estranha felicidade em vê-lo em palpo de aranhas.
Ao longo destes dias tenho visto um pouco de tudo, a começar por gente que fez parte do establishment socrático e que pactuou, silencioso e cúmplice, com alguns dos seus desmandos, até algumas publicações e jornalistas que se acocoravam perante o poder de antanho e que hoje, certamente esquecidos dos fretes inqualificáveis que protagonizaram, surgem militantemente alinhando nesta fúria anti-Sócrates.
E tenho felizmente reparado nos outros. Nos que de facto foram "vítimas" de Sócrates e preferem estar calados,  não alinhando nesta onda de vingança que alastra pelas redes sociais e onde grassa uma imbecilidade por parte de  muitos que, durante os cinco anos de consulado "socrático", foram incapazes de levantar um dedo ou mexer uma palha e que  hoje se transformaram em arautos e candidatos a "carrascos" de quem nunca ousaram enfrentar no seu apogeu e que estranhamente (ou não?) mostram agora uma inconcebível, inconsequente e cobarde sede de vingança. E quando falo desses, estou a referir-me por exemplo a jornalistas como Rui Costa Pinto e até Manuela Moura Guedes, esses sim "vítimas" da poderosa máquina socrática que, incomodada e sentindo-se acossada, os marginalizou e afastou do exercício da sua profissão; de Pedro Santana Lopes, a quem ainda há bem pouco tempo e numa visivelmente desequilibrada entrevista ao "Expresso", Sócrates apelidou de "bandalho"; ou mesmo de Fernando Lima, a quem as tropas socráticas "cercaram" a propósito de um (ainda) mal esclarecido caso. A todos eles seria fácil surgir agora na primeira linha, de dedo em riste e não escondendo a sua alegria em ver o cidadão José Sócrates Pinto de Sousa transformado no "preso 44" do Estabelecimento Prisional de Évora. Não o fizeram, preferiram optar, uns por um respeitoso e digno silêncio, outros por um cuidado e civilizado discurso.
Tal como eles, eu também sempre quis ver Sócrates derrotado. Mas prefiro mil vezes vê-lo  morto politicamente, nas urnas e numa lógica democrática, que numa desconfortável cela no Alentejo... É isso que felizmente me diferencia dos outros, dos neófitos do anti-socratismo, agora que é fácil (e moda) zurzir torto e feio em quem está preso preventivamente, acusado de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.

domingo, 23 de novembro de 2014

Basta ele querer...


A DETENÇÃO de José Sócrates e todas as "réplicas" que este verdadeiro terramoto inevitavelmente provocará na cena política nacional pode conduzir a um realinhamento de todo o cenário presidencial, com o (re)surgimento de alguns candidatos e mesmo o estabelecimento de alianças partidárias que hoje podem parecer inexequíveis, mas que podem ser a última "cartada" que os partidos do chamado "arco constitucional" possuem para tentar recuperar a credibilidade e confiança que o regime e a classe política tem perdido nas últimas décadas.   
Apesar dos seus 79 anos de idade e de um visível distanciamento da cena política a que se votou nos últimos anos, Ramalho Eanes tem condições objectivas para - se assim o desejar - ser o próximo inquilino do palácio de Belém. Basta-lhe dar um sinal claro nesse sentido, colocar-se, naquele seu jeito, "ao serviço da República", comprometer-se em exercer apenas um único mandato, surgindo assim como o candidato suprapartidário que facilmente "arrastará" os principais partidos num apoio e deixará outros, caso do PCP, numa situação não muito "confortável". Basta ele querer. Porque a PS e PSD não restará outra coisa senão repetir, 40 anos depois, uma maioria que  "escolheu" o primeiro Presidente da República constitucionalmente eleito do pós-25 de Abril.

domingo, 16 de novembro de 2014

A figurinha


TALVEZ POR ser maneirinho, Luís Marques Mendes especializou-se em passar entre os pingos da chuva e, lampeiro, furtar-se às responsabilidades que lhe possam caber em situações em que, directa ou indirectamente, possa estar envolvido. Foi assim na política, quando liderou de forma desastrada um PSD que enxameou de um verdadeiro bando de indefectíveis e que fizeram "trinta por uma linha" e é assim nos múltiplos casos em que tem surgido envolvido - desde a sua passagem pela Universidade Atlântica (lembram-se?) até agora esta sua ligação formal a alguns dos implicados no último escândalo que abalou a "nomenklatura" da nossa administração pública, isto sem citar as suas tropelias como "facilitador" de negócios, onde o seu afã predador relativamente à concorrência já é motivo de galhofa e também de incredulidade no "mercado"...

Tudo isto seria relativamente pouco importante se Mendes, em vez de querer surgir publicamente como "farol" dos valores éticos e paladino da moral pública, estivesse calado e quieto. Mas não... sempre que pode, a figurinha em causa coloca-se na ponta dos pés, arvora-se sabe-se lá em quê e debita uma série de lugares comuns como se de uma referência ético-moral se tratasse. Ao princípio até tem graça, dá para nos rirmos à volta de uma mesa; em seguida já começa a irritar; e agora, definitivamente, mete nojo...

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Mário Lindolfo


CONFESSO QUE pensava que o Mário Lindolfo já não andava por cá. Há anos que o deixei de ver, nunca mais ninguém me tinha falado dele, tinha pura e simplesmente perdido o rasto. Hoje, através do Facebook, soube que afinal ele esteve por cá e só agora é que tinha resolvido sumir. Conheci o Mário há muitos anos, salvo erro andava ele pelo "Portugal Hoje", praticamente quando comecei nos jornais - ainda eles tinham o encanto de ter pessoas assim como ele, com quem dava gosto trabalhar, escutar, aprender. Do Mário Lindolfo guardarei sempre a memória de alguém que foi um excelente repórter, um notável cronista e de alguém que utilizava a ironia como poucos.E isso não é pouco...

sábado, 18 de outubro de 2014

Gabriel Espírito Santo (1936-2014)


DO GENERAL Gabriel Espírito Santo, hoje desaparecido, recordarei para sempre o momento, o local e as circunstâncias em que, há 23 anos, recebi um telefonema tão surpreendente como amigo  - ainda para mais de alguém que eu nunca tinha conhecido. Jamais  esquecerei esse momento...

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

E vai tudo por água abaixo...


A QUASE dez mil quilómetros de Lisboa, as imagens que me chegam são de bradar aos céus… Não sei se choveu mais, menos ou o mesmo que nos outros anos e isso na minha opinião pouco ou nada interessa para o caso. O que é inconcebível é que duas ou três semanas depois das primeiras cheias nada tenha sido feito e hoje, pelo que vejo, a capital esteja praticamente submersa, mais se assemelhando a uma Veneza que a qualquer outra coisa. Há uma semanas, António Costa dise ter sido apanhado de supresa e houve mesmo quem culpasse os serviços de meteorologia - tudo bem, aceitemos que sim. Mas hoje já chega, já não dá, não há desculpa que perdoe o que a Câmara Municipal de Lisboa não fez, a omissão a que se remeteu nestes últimos dias. Se eu fosse Costa estava preocupado - tanto pelo estado a que chegou Lisboa como, também, pela implicações que a incompetência da autarquia que ele dirige (?) obviamente terá na sua pretensão de vir a ser primeiro-ministro. Resta-lhe agora rezar a todos os santinhos para que essa mesma sua incompetência seja respondida pela incompetência, essa a dos outros, dos que estão no poder e a quem falta jeito e talento para saberem aproveitar as ocasiões. E diga-se de passagem, é o mais certo…

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Marina Silva e os conselhos divinos...


QUANDO, HÁ uns anos, bateu à porta do então presidente Lula para apresentar a sua demissão como ministra do Ambiente do governo do PT, Marina Silva não arranjou melhor justificação que confessar ao seu líder: "Lula, eu falei com Deus e ele disse-me que este era o momento para sair…". Apanhado de surpresa com o motivo apresentado pela sua ministra, Lula apenas conseguiu pedir-lhe um tempo até arranjar um substituto. Os meses foram passando e Marina continuou no cargo. Daí a uns tempos voltou à carga. Mas Lula já estava "vacinado" para esses argumentos "divinos" e disparou: "Marina, vais ter de aguentar. Sonhei com Deus e Ele disse-me que ainda não é o momento de saíres"… E Marina aguentou mesmo - mais um ano na pasta. Lembrei-me desta história deliciosa agora que a até ontem candidata presidencial levou um "banho" nas urnas, não conseguindo passar à segunda volta das presidenciais brasileiras. Será que, vinte e quatro horas depois do desaire, Marina ainda estará a pedir contas a Deus pela derrota que sofreu? Ou será que acha que tudo não passou de "um castigo divino" e deixou-se conversas?

sábado, 27 de setembro de 2014

Obviamente... António Costa!


NOS TEMPOS em que a minha "costela soarista" se sobrepunha a qualquer outra, andei pelo Partido Socialista - estamos a falar na década de 70, em pleno PREC e ainda nos tempos dos primeiros governos constitucionais, era Mário Soares primeiro-ministro. Talvez esse meu "passado" contribua para que hoje, não sendo militante ou sequer simpatizante socialista,  não consiga deixar de acompanhar com grande preocupação o que se passa naquele partido desde há uns meses a esta parte e em que uma guerra pelo poder entre António José Seguro e António Costa atingiu níveis inimagináveis. Isso - por esse meu "passado"... - e também porque também sou dos que crê convictamente que um Partido Socialista forte é crucial para o regime e "estanca" o crescimento à esquerda (pelo menos aparentemente…) de alternativas folclóricas, inconsequentes e quase sempre criadas à volta de figuras supostamente messiânicas e de existência fugaz. 
Conheço os dois Antónios, o segundo bastante melhor que o primeiro - o que me permite até, convenhamos,  logicamente conhecer-lhe mais defeitos a ele que ao actual líder. Politicamente considero Seguro mais fraco que Costa - o que também, convenhamos, e dadas as minhas afinidades partidárias (se é que ainda as tenho…), levar-me-ia a preferi-lo ao actual autarca de Lisboa - mais estruturado, sólido e actuante, enfim mais capaz de se afirmar como alternativa ao actual governo. 
Mas apesar disso, mesmo estando eu claramente do outro lado da "barricada", confesso que estou a torcer para que amanhã António Costa vença as primárias socialistas que, mais que um candidato a primeiro-ministro, definirão quem liderará o partido nos próximos anos. Por uma única e simples razão: quero um Partido Socialista forte, o que só ocorrerá com a vitória de Costa. Se porventura Seguro ganhasse as eleições de amanhã, as feridas seriam tão profundas entre os socialistas que a cisão seria inevitável e, mais tarde ou mais cedo, o PS diluir-se-ia e se enfranqueceria, concedendo assim a aventureiros e oportunistas um espaço que eu prefiro ver ocupado por quem e como esteve até agora.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Joaquim Barbosa, o verdadeiro "entretainer"


NÃO É só em Portugal que essa coisa de ser "ex qualquer coisa" é rentável - no Brasil também dá um jeitão. Que o diga o impoluto e intocável Joaquim Barbosa, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal que, durante o já célebre julgamento do "mensalão", encantou um  certo Brasil com uma  pose de justiceiro e de paradigma da ética que chegou a render-lhe até  (pasme-se!) o estatuto de "presidenciável"… Agora, aposentado e liberto da presidência da principal corte brasileira, Barbosa não arranjou melhor ocupação que a de  dar conferências por esse Brasil fora. E a sua primeira aparição nessa sua nóvel ocupação vai ser já na próxima segunda-feira, nada mais nada menos que chamado "congresso dos shoppings"… Por esse andar, ainda o vamos ver a animar convívios e saraus de empresas em resorts à beira-mar. Já faltou mais...

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O "porreirão"


QUANDO ME perguntam a opinião que tenho sobre o António Marinho Pinto, respondo invariavelmente: "um porreirão!" Porquê? Porque foi assim que me habituei a vê-lo, desde os tempos em que coincidimos no "Expresso", já lá vão uns quantos anos. O Marinho, como nós o tratávamos, era o correspondente em Coimbra e era uma daquelas pessoas que parece estar sempre bem com a vida, bem disposto, alegre e que defendia com unhas e dentes o que achava estar certo - um "bacano", como soe dizer-se. Depois disso, apesar de cada um estar para seu lado,  encontramo-nos várias vezes, quase sempre em Coimbra, eu academista ferrenho, ele acho que não tanto. Lembro-me de uma dessas vezes, andava eu pelas lides da rádio, o ter convidado a entrevistar comigo o Manuel Sérgio nos estúdios da RDP em Coimbra. Uma entrevista memorável, com o "velho professor" e as suas tradicionais tiradas filosóficos a abrilhantar duas horas de uma conversa de ir às lágrimas. Bom, mas adiante...
Nos últimos anos, vi o Marinho em carne e osso uma ou duas vezes, salvo erro uma delas num comboio entre o Porto e Lisboa, já ele era bastonário e também já possuía uma projecção pública suficiente para uma carruagem inteira lhe dar mais atenção que ao anúncio sonoro da proximidade de uma estação. Obviamente nestes últimos anos, como qualquer pessoa que se interessa minimamente pela actualidade, segui-lhe os passos; as mil e uma polémicas em que se envolveu;  as múltiplas afirmações desassombradas com que encheu outras tantas primeiras páginas de jornais; as suas aparições televisivas constantes; e mais recentemente a sua carreira política. Talvez injustamente - não sei… - tenho-me dado agora conta que o Marinho está progressivamente a levar-se, a ele próprio, excessivamente a sério, está a deixar de ser o "porreirrão" simpático, afável e de uma boa-disposição contagiante para dar lugar a mais um dos muitos chatos que pululam por esse País fora e enxameiam tudo o que é noticiário. Deu-lhe para achar-se arauto daquela franja da sociedade que acha que dizer mal da política lhes fica bem, dos que à falta de um "encosto" partidário procuram incessantemente um palco e uma oportunidade para cometerem exactamente os mesmos erros que apontam à nossa classe política. E isso, apesar de eu gostar do Marinho Pinto, aborrece-me. Para mim o Marinho que eu gosto é o "Marinho-porreirão" de há uns anos atrás, não o Marinho nesta sua versão de "predestinado" e que adopta uma pose e postura messiânicas, como qual D. Sebastião do século XXI. Até porque, todos sabemos, de "domsebastiões" está a nossa política cheia. E acabam todos, sem excepção, por regressar a casa, de monco caído, queixosos de um povo que não lhes deu a atenção e a confiança que eles algum dia julgaram merecer, regressam frustrados e zangados com o mundo. O original, esse, nem voltou a casa - finou-se em Alcácer Quibir. E dos outros, que me lembre, não reza a história... 

11 de Setembro de 1973: "Yo pisaré las calles nuevamente"...



QUEM COMPÔS foi Pablo Milanés, quem canta é Joan Manuel Serrat. É talvez uma das "canções da minha vida" - pela letra, pela música, por que é de Pablito, por que é cantada por Serrat, no fundo pelo que ela representou e representa na minha vida. E representou muito, acreditem. Com 13 ou 14 anos cruzei-me com dezenas e dezenas de chilenos arredados de seu país, fugindo de uma espiral de terror e violência que ceifou a eito milhares de vida. Quatro décadas depois não esqueço o misto de tristeza, de nostalgia, de revolta com que todos eles encaravam o dia seguinte - é uma imagem que não se apagou da minha memória, que associo ao que de mais triste pode suceder a uma pessoa.
Salvador Allende pode ter tido muitos defeitos e pode ter cometido muitos erros ao longo dos três anos que liderou o governo da Unidad Popular - concerteza que sim. Mas isso não justifica a barbárie, os assassinatos, o verdadeiro massacre que um bando de criminosos cometeu sobre milhares e milhares de chilenos a quem apenas o facto de pensar era suficiente para ser ser levado para o Estádio Nacional de Santiago ou morto pela sangrenta "caravana da Morte" que, a mando do facínora Augusto Pinochet, cruzou o Chile dizimando tudo e todos.
É por essas e por outras que, quarenta e um anos após a sua morte no palácio de La Moneda, Allende merece ser recordado. Quanto mais não seja porque com ele o Chile falava, pensava e era livre. E isso já não é pouco...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Paulo Portas: mais um "número"...



O DESESPERO de Paulo Portas é evidente. Depois daquela rábula do Verão do ano passado e que lhe custou definitivamente a auréola que ainda gozava em certos sectores da direita portuguesa, o líder de um visivelmente definhado e acabrunhado CDS tenta a todo o custo recuperar alguma da pouca credibilidade que já possuiu. E para isso deita mão a todos os artifícios e "números" que se possa imaginar, num afã obsessivo em colocar-se na ponta dos pés e surgir aos olhos dos portugueses como o arauto da defesa dos seus direitos. Haja vergonha, que é coisa que há muito o líder centrista não tem - se é que alguma vez a teve… Como é que alguém que foi co-responsável pelo maior ataque de sempre ao bolso dos portugueses, pode agora, qual lobo-mau travestido de capuchinho vermelho, vir a terreiro de mansinho defender uma política fiscal contrária à do governo de que ele é vice primeiro-ministro?! Há limites para tudo, até para o descaramento!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

I ❤ TAP


SE É possível nutrir uma paixão por uma companhia aérea, então confesso: sou apaixonado pela TAP. E é uma paixão de muitos anos, desde miúdo, daquelas paixóes assolapadas, que são mais que entusiasmos momentâneos - acho que é mesmo uma obsessão! E sou, acreditem ou não, de uma fidelidade a toda a prova: nunca na minha vida a traí, ou seja jamais a preteri a favor de qualquer outra, por mais apelativa, insinuante ou sedutora que pudesse ser. Nunca! 
E exactamente por ser uma paixão obsessiva, é que não perco uma notícia sobre a "minha" companhia - "devoro-as", sejam elas boas, assim-assim ou mesmo más. Imaginam pois como tenho sofrido nos últimos tempos, n'é?  É que é raro é o dia em que na nossa imprensa não surja qualquer coisa tentando pôr em causa a reputação de quem tomou há muito o meu coração: ora é um avião que atrasou, outro que avariou, mais um que teve de aterrar de emergência, eu sei lá quantas coisas andam para aí a dizer da "minha" TAP. Ontem dei por mim a pensar: aqui há coisa… Será inveja? Será ciúme? Será o quê? Porque raio andam por aí a difamá-la?! Não sei, mas de uma coisa tenho a certeza: ali há gato! E um "gato" que de certeza já encontrou uma agência de comunicação para ajudá-lo nessa tarefa em tentar desmerecer a impoluta e virtuosa senhora; um "gato" que anda danado para tomar conta dela; um "gato" que não descansa enquanto não lhe puser a pata em cima. E isso irrita-me. Muito! Por essas e por outras é que esta minha paixão pela TAP está cada dia mais forte e intensa. A ponto de tecer armas por ela… En garde!