COMEÇA A ser difícil defender este governo. Por mais seriedade que nos inspire Pedro Passos Coelho; por muito que saibamos que é alguém bem intencionado; por mais que acreditemos que a última coisa que ele desejaria neste momento seria protagonizar as medidas impopulares que este executivo se vê obrigado a tomar; por tudo e mais alguma coisa, a verdade é que as coisas começam a tomar um rumo por que é difícil vir a terreiro tecer armas. Mas a grande questão, ou melhor, o grande problema é que para mal dos nossos pecados não existe alternativa... Por um lado temos uma oposição entregue a um líder condicionado e espartilhado por um antecessor sedento de vingança; por outro, em Belém reside uma criatura que, por mais que tente surgir como alguém que inspire respeito e credibilidade, não passa de uma figurinha de opereta moral e eticamente desacreditada e que se pronuncia consoante os ventos e as suas conveniências pessoais; e finalmente quem, no chamado "arco constitucional" poderia integrar uma solução consensual e abrangente prefere compreensivelmente o recato do seu lar a uma hipotética exposição pública. Resumindo, isto está mal, muito mal. E como se não bastasse, o governo pura e simplesmente não possui uma política ou estratégia de comunicação - tudo é (aparentemente) feito em cima do joelho, sem nexo, prescindindo de um essencial fio condutor e sem que se vislumbre quem coordene ou no mínimo centralize as acções na área da comunicação. Mais grave: infantilmente estão deixando o terreno livre para que Paulo Portas e a sua corte manipule e ajeite a informação segundo a sua conveniência, tentando (e conseguindo em algumas situações) surgir aos olhos da opinião pública como o paladino do bom senso e da responsabilidade(!) o que, convenhamos, só quem não o(s) conheça é que poderá acreditar.
Uma última palavra: é difícil (para não dizer impossível) "vender" este governo. Mas por estranho que possa parecer a alguns, o único capital que ainda resta é o do próprio primeiro-ministro. É Passos Coelho, com o que ainda lhe resta da imagem com que surgiu aos olhos dos portugueses há dois anos, o único que pode ainda ser a "alavanca" que permita recuperar alguma da (muita) confiança perdida e muitas vezes infantilmente deitada fora por quem tinha a obrigação de fazer tudo para preservá-la. Exista alguém em S. Bento que perceba que talvez seja esta a última oportunidade e delineie e ponha em execução uma estratégia assente no que ainda poderá - desde que bem estruturado e com imaginação - ser eficaz em termos de comunicação. Antes que os "ratos" comecem (como sempre, aliás...) a abandonar o barco ou, por outras palavras, a trocar sms e a combinar jantarinhos com quem está do outro lado da barricada. Capice?