NOS TEMPOS em que a minha "costela soarista" se sobrepunha a qualquer outra, andei pelo Partido Socialista - estamos a falar na década de 70, em pleno PREC e ainda nos tempos dos primeiros governos constitucionais, era Mário Soares primeiro-ministro. Talvez esse meu "passado" contribua para que hoje, não sendo militante ou sequer simpatizante socialista, não consiga deixar de acompanhar com grande preocupação o que se passa naquele partido desde há uns meses a esta parte e em que uma guerra pelo poder entre António José Seguro e António Costa atingiu níveis inimagináveis. Isso - por esse meu "passado"... - e também porque também sou dos que crê convictamente que um Partido Socialista forte é crucial para o regime e "estanca" o crescimento à esquerda (pelo menos aparentemente…) de alternativas folclóricas, inconsequentes e quase sempre criadas à volta de figuras supostamente messiânicas e de existência fugaz.
Conheço os dois Antónios, o segundo bastante melhor que o primeiro - o que me permite até, convenhamos, logicamente conhecer-lhe mais defeitos a ele que ao actual líder. Politicamente considero Seguro mais fraco que Costa - o que também, convenhamos, e dadas as minhas afinidades partidárias (se é que ainda as tenho…), levar-me-ia a preferi-lo ao actual autarca de Lisboa - mais estruturado, sólido e actuante, enfim mais capaz de se afirmar como alternativa ao actual governo.
Mas apesar disso, mesmo estando eu claramente do outro lado da "barricada", confesso que estou a torcer para que amanhã António Costa vença as primárias socialistas que, mais que um candidato a primeiro-ministro, definirão quem liderará o partido nos próximos anos. Por uma única e simples razão: quero um Partido Socialista forte, o que só ocorrerá com a vitória de Costa. Se porventura Seguro ganhasse as eleições de amanhã, as feridas seriam tão profundas entre os socialistas que a cisão seria inevitável e, mais tarde ou mais cedo, o PS diluir-se-ia e se enfranqueceria, concedendo assim a aventureiros e oportunistas um espaço que eu prefiro ver ocupado por quem e como esteve até agora.