UMAS BREVES e sucintas notas em jeito de diário de cinco ou seis dias passados em Portugal, num também breve intervalo, de uma estada por terras brasileiras.
Terça-feira, 22 de Abril
A apresentação do drone da Marinha, numa cerimónia presidida pelo ministro da Defesa, foi um dos momentos mais hilariantes do ano. Ninguém me tira da cabeça que não foi por acaso que o militar encarregue do frustrado lançamento usou um passa-montanhas a esconder-lhe a cara...
Quarta-feira,
23 de Abril
A propósito da morte de Gabriel Garcia
Márquez, a revista “Sábado” publica em separata as reportagens que, em 1974, o
escritor escreveu para a revista colombiana “Alternativa” sobre o Portugal
pós-25 de Abril e em que, rendido à “festa”, descreve o ambiente da época.
Curioso... Há uns anos, quem diria que a chamada “esquerda folclórica”, arrinconada na cinzenta, velha e já
quase defunta “Visão” deixaria escapar um scoop
(passe a expressão) destes. De facto, os tempos mudaram... Ainda por cima
quando, dois ou três dias mais tarde, através do Facebook, vim a saber que um
trabalho encomendado a João Botelho para ser capa do cinzento “JL” foi censurado
pelo sempre diligente José Carlos
Vasconcelos, presumivelmente por ser ofensivo para Cavaco Silva (ver foto). Notável...
Quinta-feira,
24 de Abril
A propósito dos 40 anos do levantamento
militar, a Associação 25 de Abril divulgou um comunicado. Mais valia não o ter
feito... Alguém conseguirá explicar às luminárias que tomaram conta daquela
organização que ao pedir e incitar ao derrube de um governo que, pese a óbvia
(e também legítima) contestação de que é alvo nas ruas e de quem se proclama
analista e comentador, é democraticamente legitimo, a Associação 25 de Abril
está a contradizer-se na sua génese?! É que, por muito que lhes custe, este
governo que eles anseiam “defenestrar” é produto da vontade expressa e
maioritária do eleitorado que, no exercício de um direito para a qual o 25 de
Abril de 1974 foi decisivo, escolheu. E quando, em letra de forma e invocando
uma legitimidade que, no meu entender, findou quando entregaram o poder à
sociedade civil, escrevem “pérolas” como esta – “Temos de ser capazes de expulsar os
‘vendilhões do templo’. Os desmandos e a tragédia da atual governação não podem
continuar(…)" – o que resta dos
“militares de Abril” comportam-se-se mais como uns Casal Ribeiro de outros
tempos que propriamente como paladinos da democracia e dos seus princípios.
Sexta-feira,
25 de Abril
Praticamente à mesma hora em que, no bar do
clube de golfe onde normalmente “tento” jogar, um energúmeno vociferava sem
nexo contra uma data que, há 40 anos atrás, possivelmente lhe veio a permitir
amealhar uns cobres e, de um momento para o outro, achar-se “da alta”, no largo
do Carmo, a uns quantos quilómetros, uma outra criatura – tão imbecil quanto
esta – investido nas funções de “tribuno de serviço” lia deslumbrado um
discurso desgastado, pobre e, também ele, sem nexo. Ao primeiro dos energúmenos
não lhe conheço nome ou profissão – apenas o sei parco de ideias e cretino de
intenções; ao segundo, conheço-lhe o nome e a pose algo grotesca, o deslumbre
fácil e a constante tentação de ocupar
na História um lugar que nunca foi dele. Estão bem um para o outro.
Extraordinário...
À noite, breve vista de olhos pelos
telejornais: na Assembleia da República, numa cerimónia chocha, houve quem
confundisse “resgate” com “ditadura”; no Carmo não faltaram os que ainda não
perceberam que querer derrubar um governo sem ser pelo voto é tudo menos
democrático...
Sábado,
26 de Abril
Já me tinham contado, mas eu – reconheço...
– tinha alguma dificuldade em acreditar: as medidas governamentais deixaram de
ser anunciadas pelo porta-voz do executivo e, na prática, o ministro Luís Marques Guedes foi substituído
pelo comentador Luís Marques Mendes
que, no seu espaço na SIC, apregoa a descida do gás de botija, a revisão das
rendas da EDP e eu sei lá mais o quê. Acredito que isso lhe dê um jeitão e
contribua para valorizar-se perante a sua entidade patronal (neste caso, a
SIC...), mas convenhamos que – estivesse eu no lugar de Marques Guedes – não
hesitava em queixar-me à Autoridade da Concorrência...
Domingo, 27 de Abril
Assisti, com um dia de atraso, a um
interessante (e inteligente) frente-a-frente na SIC Notícias entre António Vitorino e Pedro Santana Lopes. Valeu a pena. Mas depois... depois voltei à
programação do dia e dei comigo a ver um “Eixo do Mal”, todo ele dedicado ao 25
de Abril, onde a par dos habituées,
marcaram presença alguns dos “cromos mais difíceis da colecção”. A saber: Isabel do Carmo, Ângelo Correia, Helena
Roseta, Ana Gomes, padre Vaz Pinto e um inenarrável Manuel João Vieira, a quem certamente
alguém um dia disse (e ele levou a sério!) que tinha graça. Uma tristeza, onde
o habitual cabotinismo dos “residentes” foi salpicado por inenarráveis análises
políticas dos “convidados”, com particular destaque para a ziguezagueante
arquitecta que – pasme-se! – revelou o seu entusiasmo por ter finalmente
encontrado um rosto que, segundo ela, poderá protagonizar a mudança que a
senhora tanto anseia para o nosso País – nada mais nada menos que o anafado Vasco Lourenço, cujo discurso no Carmo
tinha-lhe devolvida “a esperança” ou qualquer coisa dessas. Coitada...
Sem comentários:
Enviar um comentário