PUBLICADO JÁ este este ano, "Puedo prometer y prometo - mis años con Adolfo Suárez" é um livro essencial para conhecermos o homem que, a par do rei Juan Carlos, foi o grande obreiro da transição democrática espanhola. Fernando Ónega, um jornalista que foi um dos seus principais e discretos colaboradores, reconstitui neste livro a trajectória política e pessoal de Adolfo Suárez numa obra que fica a meio-caminho entre a biografia e a crónica histórica e que tem o condão de prender o leitor ao percurso de alguém que, pese a enorme importância que possuiu nos cinco anos mais alucinantes da complexa cena política espanhola do pós-franquismo, acabou abandonado e muitas vezes traído pelos seus próprios companheiros.
Há mais de dez anos que Suárez padece da doença de Alzheimer e hoje não sabe nem quem o rodeia, nem tão-pouco quem é ou mesmo quem foi... Daí a importância deste livro, que além das recordações do autor, recolhe testemunhos de outros protagonistas da "transición", a começar pelo próprio monarca espanhol. Curiosa, para nós portugueses, uma passagem do livro onde Ónega dá conta de um dos grandes sonhos de Suárez - a união política entre Portugal e Espanha, um tema que não hesitava de, em inner circle, confessar como um dos seus grandes objectivos. E, conta Ónega, que mesmo quando os seus interlocutores argumentavam com o "forte orgulho nacionalista português", Suárez sorria e contrapunha: "Pero con la capital en Lisboa…". Nada que os Felipes não tivessem já pensado - e tentado…
3 comentários:
Tenho o maior respeito pelo Adolfo Suarez. Mas desconhecia este seu sonho iberista. Há sempre que estar atento a estas ideias... principalmente por cá! E vou ler o livro, claro! Obrigado pelo alvitre.
Amigo ZPF
Vivi em Madrid todo essa História.
Lembro-me de desde um 5º andar do 31, ver Franco no Rolls descapotável aberto descendo a Gran Via.
Eu mesmo o poderia ter assassinado.
Janelas abertas e sem Polícia alguma no meu campo de visão.
De pé e agarrado com uma mão a um varão, a outra estendida fazia o gesto Falangista.
Como já padecia de Parkinson alguns pensavam que "dizia Adeus".
O povo aos gritos de "Franco,Franco".
Nem um tiro,nem Polícia a fazer algum cordão de protecção.
Lembro-me do dia em que morreu.Parecia que tinha morrido alguêm de família a toda a gente.
Choravam na Rua,nas lojas,nos Restaurantes.
Na época Madrid estava a abarrotar de Portugueses refugiados da Ditadura Comunista Portuguesa pós Spínola.
A Fundação Nossa Senhora de Fátima desdobrava-se em aulas para os miúdos lusos.Não eram validadas mas pelo menos não perdíamos a ligação à "escola".
Lembro-me do MDPL e do Marechal de monóculo em Madrid e dos rumores da invasão iminente de Portugal para destronar Cunhal e seus capangas Otelo,Vasco Gonçalves e Costa Gomes.
Lembro-me da tentativa de golpe em Madrid por Tejero que a 23 de um frio Fevereiro de 81 entrou nas Cortes aos tiros.Todos os Deputados da jovem Democracia se atiraram para o chão menos um.
Uma só cabeça ficou de pé desafiando Tejero.
Era o Duque de Suárez.
O resto é História.
Juan Carlos não se intimidou e reuniu a ainda super Franquista elite militar para abortar o Golpe.
Suárez era um homem charmoso,inteligente e com um carisma único.
Um democrata daqueles que não existem mais em lado nenhum.
Compartia a visão de Natália Correia.
Uma Ibérica forte e unida sem a Europa ladra e imperialista sugando-nos o sangue..........
Ainda sobre o Duque se Suárez deixo o link de uma entrevista dada em 1980 ao ABC que foi vetada na época por tão abertamente franca e que só em 2007 viu luz do dia...Não antes de deixar uma frase da mesma:
"Josefina Martínez del Álamo:
¿Sabe por qué quería entrevistarlo? Creo que es usted el gran desconocido. Los españoles no sabemos nada de Adolfo Suárez persona. Cómo se siente, cómo piensa.
Duque de Suárez:
Yo soy el primer convencido de ello.
No.
No me conocen».
http://www.abc.es/hemeroteca/historico-23-09-2007/abc/Domingos/entrevista-inedita-a-adolfo-suarez-soy-un-hombre-completamente-desprestigiado_164932329050.html
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