NÃO MORRENDO propriamente de amores pela personagem em questão, não posso deixar de recomendar a leitura das palavras que Ângelo Correia escreve hoje na sua coluna do "Correio da Manhã", sob o título "A crise continua". É difícil ser mais certeiro ao analisar a actuação presidencial nesta crise política:
"Cavaco Silva fez um discurso simultaneamente claro e obscuro, mas, onde foi claro, errou e, onde foi obscuro, criou perplexidades. Clareza na necessidade de um "compromisso de salvação nacional", o que significa a aceitação pelos três partidos PSD, PS e CDS de um programa de ação comum, a ser concretizado por um futuro governo que o respeite e implemente. O anúncio deste projeto é ao mesmo tempo tardio e excessivamente antecipado.
"Cavaco Silva fez um discurso simultaneamente claro e obscuro, mas, onde foi claro, errou e, onde foi obscuro, criou perplexidades. Clareza na necessidade de um "compromisso de salvação nacional", o que significa a aceitação pelos três partidos PSD, PS e CDS de um programa de ação comum, a ser concretizado por um futuro governo que o respeite e implemente. O anúncio deste projeto é ao mesmo tempo tardio e excessivamente antecipado.
Tardio,
porque se Cavaco julgava esse "compromisso" como indispensável, deveria
tê-lo colocado aquando da formação do governo. Excessivamente antecipado,
porque só após o próximo ato eleitoral, o P. R. deverá de novo recolocar o
problema. Por isso, o "compromisso" requerido, até pelo que se sabe
da posição do PS, é hipótese inverosímil e Cavaco já o sabia antes de o lançar.
Foi ainda
claro, na marcação da data para a realização de eleições legislativas, o que
traduz uma genial antecipação do futuro, sabendo Cavaco – seguramente por
inspiração de um relevante "orixá", que, nessa altura, existirão
graves problemas que afetam o "regular funcionamento das
instituições", obrigando por isso à dissolução da A. R. e à convocação de
eleições. Suponhamos que nessa altura, o estado do País melhorava, a economia
progredia um pouco, a consolidação das contas públicas era mais sólida; apesar
de tudo isso, e ainda assim, Cavaco convocava eleições. Qual a lógica e a
consistência dessa atitude? Mas Cavaco foi obscuro, na definição do que
pretende fazer, se o "compromisso de salvação nacional" falhar.
Afirma que tem soluções jurídico-constitucionais possíveis. Quais? Para manter
uma reserva de poder? Mas não perceberá que assim só prolonga a crise, a
ambiguidade, as crescentes dúvidas do exterior?
Gaspar
iniciou a crise disparando sobre tudo e todos, nomeadamente o que fora o seu
Governo. Passos Coelho fez-lhe suceder alguém que Portas não quer. Este
demite-se e depois exige mais poder, remodelação de governo, realteração do seu
curso. A crise agudiza-se e quando era previsto que Cavaco lhe pusesse um ponto
final, deita gasolina para o chão, acende um fósforo e espera o momento de o
lançar. Suspeito que Cavaco ainda vai lançar-nos em eleições antecipadas, ou
seja aquilo que ele dissera ser impensável para Portugal.
Que mais nos
irá ainda acontecer?"
2 comentários:
O melhor é haver eleições antecipadas para Presidente da Républica.
O rapaz Correia é hoje, para mim, o mais perspicaz e sensato analista deste país, onde os politólogos nascem como tortulhos
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