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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

"Agora deito-me eu, agora deitas-te tu!"



ENQUANTO QUE, com uma sobriedade e objectividade notáveis, o jornalista ao serviço da TVI Rui Araújo relatava em directo o conflito líbio, os enviados da SIC e da RTP a Tripoli recorriam a todos os meios para encontrar um cenário que lhes permitisse "passar" uma imagem de acossados repórteres de guerra, entre chuva de balas e enfrentando mil e um perigos - ou seja tentando ser eles mesmos o "centro da notícia". Recorro a duas imagens publicadas por Frederico Duarte Carvalho no seu blogue www.paramimtantofaz.blogspot.com para ilustrar o comportamento patético de Cândida Pinto e Paulo Dentinho que, dentro do hotel da capital líbia, escolheram o mesmo muro para se esparramarem e entre ruídos longínquos de tiros relatarem ofegantes um cenário que de guerra pouco ou nada tinha. Esqueceram-se foi de retirarem a garrafa de água do "campo" dando a clara sensação do "agora deito-me eu, agora deitas-te tu!". Para a próxima não se esqueçam de levar um assistente de realização. Dá sempre jeito...

2 comentários:

Anónimo disse...

Patético! Envergonha a classe jornalística!

GM

Anónimo disse...

Agora olha este texto da primeira edição em papel do Dinheiro Vivo autoria do João Adelino Faria...
Não devemos andar no mesmo mundo!

Augusto FS

O que os faz correr
03/09/2011 | 00:49 | Dinheiro Vivo Ao telefone acertava comigo os últimos detalhes de mais um directo no jornal quando um silvo de balas de metralhadora cortou brutalmente a nossa conversa. Depois, o silêncio. Minutos de angústia até que, com um sorriso disfarçado, voltei a ouvir a voz dela: "Tenho a cama do quarto com balas mas já passou. Está tudo bem." Continuámos a conversar alguns minutos com ela deitada no chão enquanto os disparos não cessavam. Quando o silêncio voltou, levantou-se e olhou à volta: "Vamos embora que já está na hora do directo!"

As memórias daquela guerra em Angola e da conversa com a repórter Cândida Pinto assaltam-me sempre que assisto a situações como a que aconteceu, de novo, esta semana. Dois dos nossos melhores jornalistas são surpreendidos por um ataque de atiradores em Tripoli, quando faziam directos para os telejornais. Apesar da violência e do risco de vida não fugiram. Encolheram-se no terraço do hotel e continuaram a relatar o que estava a acontecer, enquanto as balas lhes voavam por cima. Olhei gelado para o ecrã quando vi que a única protecção que a Cândida Pinto (SIC) e o Paulo Dentinho (RTP) tinham era a roupa do corpo e uma parede mínima. Ao lado, os repórteres da Sky News e da CNN faziam o relato à distância recomendada dos locais de perigo e protegidos por coletes e seguranças.

Fazer jornalismo de guerra como estão a fazer os repórteres portugueses na Líbia é um enorme risco e eles sabem, mas mesmo assim nada os faz desistir. Ao primeiro sinal de perigo avançam quando muitos recuam. Este é o verdadeiro jornalismo, do qual nos deveríamos orgulhar. Quando vejo nas estações mundiais de televisão alguns dos grandes repórteres mais preocupados em serem protagonistas do que em relatar factos, ou a fazer jornalismo de guerra na porta do hotel, não deixo de pensar afinal o que faz correr os nossos repórteres de guerra. Não ganham mais por isto, não têm protecção especial, muitas vezes até lhes falta um simples obrigado. Mas eles não desistem!