JÁ AQUI, salvo erro por uma ou duas vezes, lembrei o sinuoso percurso político desse "paradigma da coerência" que dá pelo nome de José Veiga Simão e que no seu currículo conseguiu (pasme-se!) conciliar o facto de, antes do 25 de Abril, ter sido reitor da Universidade de Lourenço Marques nomeado por Salazar e ministro da Educação do governo de Marcello Caetano e, a seguir a 1974, desempenhas as funções de embaixador na ONU nomeado por Spínola, ministro da Indústria de Mário Soares, director-geral de Cavaco Silva e ministro da Defesa de António Guterres - isto para além de ter-se tornado um fervoroso militante do PS, partido do qual chegou a ser deputado e membro dos órgãos nacionais. Tivesse Simão alguma vergonha e teria, a seguir ao 25 de Abril, guardado algum recato - ele que foi o responsável, entre outros "feitos", pela introdução dos chamados "vigilantes" (vulgo "gorilas") nas universidades portuguesas. Mas não, Simão rapidamente descobriu a democracia e os seus ideais e, graças a cumplicidades e amizades com algumas pessoas que lhe abriram as portas do novo regime, aprestou-se a servi-lo com o esmero e dedicação. E também - é óbvio! - com um descaramento e desfaçatez que chega a roçar a fronteira da vergonha. Praticamente quarenta anos depois do golpe que derrubou o governo que ele servia também com esmero e dedicação, vem agora a público como se de uma referência do regime democrático se tratasse perorar sobre a fragilidade e a "decadência dos partidos". Lê-se e não se acredita: "Os políticos não corresponderam ao sonho de Abril", afirma Simão numa entrevista ao "Diário de Notícias" e em que defende que "a classe política encontra-se desprestigiada" e aproveita para reclamar "políticos a sério". Agora só falta mesmo vê-lo sentado à mesa como convidado de honra nalguma daquelas almoçaradas da Associação 25 de Abril. Também já nada me espanta...
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