"Há
políticos que encenam ao milímetro as suas aparições na TV, encarnando a
personagem certa para cada plano, cada acto das suas carreiras. Há dias vimos
Paulo Portas chegar a mais uma sessão de pedinchice, então em Washington. Mal
viu as câmaras, tratou de se dirigir a Carlos Moedas de facies cerrado
e gestos imperativos - pose professoral de quem dá as últimas dicas a um aluno
prometedor mas inseguro, antes do exame decisivo. Mesmo que, ali, o neófito
fosse ele.
Depois da vergonha
"irrevogável" da demissão, Paulo Portas remodelou-se como O Homem que
Vai a Reuniões Importantes. Sem tempo para minudências como o prometido
"guião" da reforma do Estado, nem para fazer o luto da sua anterior
encarnação: o paladino dos pobres e reformados.
Afinal, depois de tantos
anos agarrado ao poder, de que obra pode o pavão Portas ufanar-se? Resmas de
fotocópias? À memória assomam submarinos, Pandurs, sobreiros, casinos, SIRESP.
Nem uma só sílaba meritória, atenuante.
Soube-se há dias que este
pendura da nossa democracia colocou as poupanças a salvo num banco estrangeiro,
mal soube do que aí vinha - fosse o bom do Relvas a ser apanhado nesta e
tê-lo-iam grandolado até em casa. Mas "ser apanhado" é expressão
descabida: Portas nem esconde estas coisas. Lembram-se do acidente com o Jaguar
da Moderna, já bem a meio do escândalo? Ele não quer saber. Julga-se tão
intangível e inalcançável quanto Jacinto Leite Capelo Rego, fantasma célebre e
financiador do PP. É bem capaz de ter razão."
Luís Rainha
"i", 18.09.2013
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