ONTEM À noite fiz três telefonemas para
três amigos no Brasil. Do Rio de Janeiro, primeiro o Cláudio
(publicitário, 60 anos e um democrata convicto de toda uma vida) atendeu-me
entusiasmado, mas praticamente sem conseguir ouvir-me: "'Fafi', estou na passeata!"; em Brasília, a Marcela,
advogada, ainda a ver chegar os 40 e que aparentemente sempre navegou em águas
próximas do que é chamado de "esquerda", respondeu-me com um sms
esclarecedor: "Estou
na rua, frente ao congresso #venhaparaaruavctambem"; e em São Paulo, a minha amiga Fátima,
a trabalhar numa KPMG da vida, tinha saído mais cedo e estava na Avenida
Paulista a celebrar a descida do preço dos transportes públicos - ela que não
dispensa nem por um minuto o seu BMW blindado...
Todos, mas todos eles, estavam na rua!
Num protesto comum, lado a lado com o "zelador" dos seus condomínios,
com as suas "diaristas", com os empregados a quem pagam mensalmente
salário, com os desprotegidos que por muitas "bolsas nãoseiquê"
que recebam não conseguem ter um padrão de vida minimamente digno, com os
favelados e até mesmo com aqueles que aproveitando a confusão não perdem a
oportunidade para partir umas montras e saquearem o que lhes aparecer à
frente.
Depois voltei para a posição 172 da Zon
- o Canal Record News, que desde há dias me permite acompanhar as manifestações
por todo o Brasil: 300 mil no Rio, mais de uma centena de milhar em São Paulo e
distribuído por tudo o que é cidade, 40 mil em Belo Horizonte, nãoseiquantos
milhares em Campinas, outros tantos em Ribeirão Preto, o Planalto e o Itamaraty
sitiados em Brasília, enfim um país na rua e em polvorosa...
Adormeci, já o relógio marcava as quatro
da manhã, com a convicção que cada dia que passa, as coisas pioram e que todo
este movimento é transversal - política, etária, socialmente, cercando uma
Dilma e um PT nesta contradição em que vivem e em que tentam, sem sucesso,
fechar os olhos a uma realidade adversa e que os encosta progressivamente
"às cordas". E mais grave é que, olhando para a cena política, apenas
encontramos protagonistas que, para o comum dos mortais e pese alguma tentativa
para descolar do sistema, representam apenas "mais do mesmo", abrindo
assim caminho ao perigoso populismo e aos que, com aquela aura de justiceiros
e fama de incorruptíveis, surgem sempre nestes momentos como se de
"messias" salvadores se tratassem. O que é perigoso, muito
perigoso...
2 comentários:
Uma pergunta. Porque é que o Expresso(online) dá tão poucas notícias sobre o que sepassa no Brasil?
Será porque a Globo tmabém não dá?
Porque será que o Expresso online dá tão poucas notícias sobre o que se passa no Brasil?
Será porque a Globo - sua aliada - tmabém não dá?
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