NÃO ME revendo habitualmente nos escritos (e não só) do antigo director do "Expresso" Henrique Monteiro, não posso deixar de subscrever por o texto que este escreveu a
propósito dos incidentes que ocorreram ontem à frente da Assembleia da República.
Porque os factos são o que são e porque a
memória ainda conta muito - mesmo para quem a tenha "perdido"......
"Há
coisas do arco-da-velha. Uma delas é acreditar que um polícia, depois de hora e
meia a levar pedradas, tem discernimento para, durante uma carga, saber quem
prevaricou e não prevaricou. Vamos a factos. Vários energúmenos (que nada
tinham a ver com o espírito da manifestação, e já depois de esta ter acabado)
começaram a apedrejar polícias em frente ao Parlamento. Vários manifestantes
(entre os quais Daniel Oliveira, segundo o próprio relata na sua crónica)
pediram insistentemente para não o fazerem, no que não tiveram sucesso e
abandonaram o local. Um dirigente do PCP, que se encontrava a dar uma
entrevista a uma televisão, condenou o sucedido e disse que ia retirar-se
imediatamente daquele sítio, o que fez. Mais de uma hora depois, as
pedradas continuavam. Alguns populares (ligados, presumo, à manifestação da
CGTP) colocaram-se em frente da polícia tentando demover os delinquentes. De
nada serviu, a chuva de pedras continuou. A polícia fez um aviso: retirem-se da
praça que vamos carregar. Dois minutos depois repetiu o aviso. Cinco
minutos depois, carregou. Quem ainda estava na praça sabia o que ia
acontecer. Bateram em pessoas que jamais tinham atirado uma pedra? É
possível. O que não é possível é ser de outra maneira; o que não é possível
é durante uma carga, um polícia que esteve sob uma tensão enorme durante horas,
indagar e interrogar-se sobre a justeza da sua ação. Isso é lírico. A
polícia cumpriu todas as normas. Mas porque não foi ao meio da manifestação
buscar os apedrejadores? Bem, porque era arriscado. E porque as cargas têm de
ter aviso, pelo menos nos países democráticos e civilizados.
E, já agora, uma nota final
para os ignorantes que comparam estas cargas às que existiam antes do 25 de
Abril. Estive em várias e era assim. Um estudante (lembro-me de José Luís
Saldanha Sanches, por exemplo) saltava para a escadaria da Faculdade de Direito
e discursava contra a guerra colonial. De repente, de trás da reitoria, saía
a polícia de choque do célebre capitão Maltez. Às vezes traziam cavalos, mas a
maioria das vezes cães. Batiam em quem podiam, sem que nada fosse arremessado
contra eles. Sem avisos, sem jornalistas que pudessem presenciar. Acham que
há comparação? Não brinquem com coisas sérias!".
1 comentário:
Só se perderam as que caíram no chão!!!
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