MAIS UMA vez (e como sempre...) Paulo Portas fez o discurso que as pessoas queriam ouvir. Afirmou, gritou e repisou o que todos pensam e defendem, naquela lógica assente em quatro ou cinco imaginativos e bem-elaborados sound bytes que, para além de facilitar o trabalho aos jornalistas que têm de produzir o noticiário, dão sempre o precioso mote para os comentadores pronunciarem-se sobre o que ele quer que se pronunciem. Reconheça-se: Portas tem o mérito de fazer discursos bem alinhavados, bonitinhos, nitidamente treinados previamente ao milímetro - e esse mérito ninguém lhe tira! Poderia até ser um exemplo para aqueles que, apesar de colocarem bem a voz e possuirem um porte que fica sempre bem atrás de um púlpito, por muito que falem e apareçam pouco ou nada se retém... Porém, sobre Portas, a grande questão prende-se não com a sua capacidade oratória, mas sim com a capacidade que ele ainda tem em disfarçar perante o País aquela quase doentia ânsia pelo exercício do poder, pela sua liturgia, pelas mordomias que o envolvem. É que, diga-se em abono da verdade, este Portas que hoje clama, quase na fronteira da apoplexia, pela demissão de um Sócrates hoje "ferido de morte" é o mesmo Portas que ainda há pouco tempo piscava, sôfrego e guloso, o olho ao mesmo Sócrates, então "a transpirar saúde", quase que implorando um acordo que não sei mesmo se alguma vez - por debaixo da mesa - não chegou mesmo a existir...
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