GOSTE-SE OU não de Miguel Relvas, queira-se ou não vê-lo arredado do executivo, a verdade é que o título da primeira página do "Expresso" desta semana é bem revelador do (muito) que certamente está por detrás do tanto que se tem dito e feito acerca do ministro-adjunto: "Relvas quer ficar até vender a RTP"...
Sejamos sérios e pesemos as palavras, o seu sentido e a construção da frase que os responsáveis do semanário outrora da Rua Duque de Palmela escolheram para chamar para a primeira página um texto como sempre equilibrado (não fosse ele assinado pela jornalista Ângela Silva) e neste caso concreto bem mais objectivo, que refere no seu quarto parágrafo: "Ao que o Expresso apurou, Relvas não gostaria de deixar o Executivo antes de fechar a reforma autárquica e a privatização de um canal da RTP(...)". Ou seja: no texto, a jornalista refere explicitamente que o ministro gostaria de encerrar dois dos principais dossiers que tem a seu cargo (novo mapa autárquico e privatização de um dos canais de serviço público televisivo) antes de eventualmente abandonar o governo. Aliás - suponho... - a jornalista até teve o cuidado de colocar, em ordem de importância, as tarefas que Relvas tem entre mãos: a reforma autárquica, primeiro; e a privatização de um canal da RTP em segundo lugar. E o que fizeram os responsáveis do "Expresso" ao chamar à primeira página a notícia sobre a alegada intenção do ministro-adjunto? Omitir o dossier que levará à diminuição do número de autarquias e limitar-se a referir a privatização de um canal televisivo do Estado - aliás fazendo-o de uma forma capciosa e "arrevezada": "(...) não quer sair sem vender a RTP". Deixemo-nos de "coisas"... Qual é a ideia que fica? Por um lado, que Relvas tem alguma coisa a ganhar com esse dossier, no caso com a privatização e por outro que a RTP vai ser vendida em peso - e não apenas um dos seus dois canais generalistas...
Não me venham dizer que "sim, está bem, de facto, até que pode ser um bocadinho especulativo, mas...", não! O que os responsáveis do "Expresso" fizeram foi mais que um título especulativo, foi um título que contém uma insinuação que é grave e que roça (se é que não o é mesmo...) a calúnia. Não está aqui em causa se Miguel Relvas trocou, ou não, sms's com o dr. Silva Carvalho; se ameaçou, ou não, a jornalista ou a directora do "Público"; ou se tirou o curso à pressa ou em cima do joelho. O que sim está aqui em causa é outra coisa e tem a ver com os princípios e a ética jornalística que não podem estar sujeitas aos interesses empresariais do dr. Balsemão e aos receios que a privatização de um canal da RTP possa a vir causar à sua (debilitada) SIC. E está em causa - volto a repetir: goste-se ou não de Miguel Relvas - a honra de uma pessoa.
7 comentários:
É a comunicação social em Portugal e para quando um novo Tal & Qual? Zé Paulo
Bjocas
concordo inteiramente com a tua análise.
Na qual se reflecte muito do que é na verdade o "caso Relvas" e paradigmático de um grupo de comunicação que outrora comparava a eleições de um presidente da republica à venda de um sabonete!
José Paulo... a honra de quem?? Um "desonrado" não tem honra!
Abraço
Caro Pedro Palma,
Não é obviamente a minha opinião e acho que está a misturar "alhos com bugalhos"... Sejamos objectivos: o título (acanalhado) do "Expresso" só vem dar razão aos que defendem que esta gigantesca onda anti-Relvas tem por detrás interesses empresariais e que se ligam ao negócio televisivo. Ou acha que o título da chamada de primeira página do "Expresso" reflecte e respeita o teor do texto da Ângela Silva? Ou que obedeceu a uma "questão de caraceteres"?
Independentemente da opinião que cada um de nós possa ter sobre Miguel Relvas, esta mania tão portuguesa de "bater no ceguinho" (cada vez com mais força consoante se vai ainda mais debilitando...), mais do que irritante, é bem reveladora da forma acobardada como só sabemos atacar - em matilha e escondidos uns atrás dos outros, não vá ser que...
Do mesmo modo que me recuso a "sacrificar" Relvas, irrita-me o "tiro ao Sócrates" que fez escola no nosso País (se tiver paciência, veja o meu post de 16 de Marco último). E olhe que, no que diz respeito ao antigo primeiro-ministro, sou sou bem mais do que insuspeito...
Abraço, ZP
Parabéns, sr. Fafe. Apesar de achar que o ministro Relvas não passa de um doutor da mula russa, ao nível do outro que agora anda meio escondido lá por Paris, acho que tem toda razão no que escreveu. E os meus parabéns vão pelo facto de ir contra a corrente do que é politicamente correto nestes tempos que correm. O que os empregados do dr. Pinto Balsemao andam a fazer é uma autentica vergonha e estão a renegar a história de um jornal que sempre se apresentou como uma referencia. Mas a culpa não é deles, coitados. É de quem lhes paga o salário...
Karocha,
Novo "T&Q"? Isso foi chão que deu uvas... :-)
Bjs., ZP
Caro Sr. José Paulo Fafe
Como deve saber, já que está ou esteve ligado ao jornalismo, o que vemos hoje na Comunicação Social,
há muitos jornais e jornalistas a não respeitarem a deontologia que era apanágio dos verdadeiros profissionais da Informação. Perdeu-se o respeito pelos leitores, em busca dos interesses dos grandes grupos empresariais ligados ás publicações.
Jornalistas dignos há poucos, e aqueles que pretendem fazer o seu trabalho com honestidade, são muitas vezes coagidos a seguirem directrizes que ofendem a sua consciência, para não lhes ser apontada a porta de saída.
Infelizmente o nosso país está a tornar-se uma coutada de gente sem escrúpulos, que não olha a meios para justificar as suas patifarias.
Cps
S. Guimarães
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